Psicólogo de Lagoa da Prata fala sobre ameaças e bullying nas escolas

O psicólogo disse ainda que sua pesquisa atual é um desdobramento do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da especialização em Psicoterapia de Família e Casal que fez na PUC Minas em 2013 e 2014. (Foto: Helder Clério).

Psicólogo de Lagoa da Prata fala sobre ameaças e bullying nas escolas

A pauta ‘saúde mental’ sempre foi muito importante e em decorrência dos últimos acontecimentos nas escolas, como em Goiânia em 2018 e Suzano-SP, no início de março que chocou o país inteiro e que têm causado fragilidade, preocupação e medo na população, faz com que o assunto seja ainda mais necessário. Nesta última sexta-feira (29) em Lagoa da Prata foi informado para a diretoria do Instituto Maria Augusta Machado (Imam) sobre possíveis ameaças de um aluno aos colegas, causando receio em toda a comunidade escolar e nos moradores da cidade. No entanto, o fato tomou proporções perigosas devido a informações desencontradas que já foram esclarecidas pela escola por meio de nota.

Nos casos de Goiânia e Suzano, especialistas apontaram que o motivo das tragédias foram devido ao bullying. Assim, a redação do Sou + Lagoa conversou com o psicólogo Rodrigo Tavares Mendonça, para falar sobre o assunto.

Confira a entrevista:

O que é o bullying, e o que causa nos estudantes?

A palavra bullying veio da língua inglesa, bully significa “valentão”. Podemos definir o bullying, de uma forma ampla, como qualquer agressão, verbal ou física, que tenha as seguintes características: que seja intencional e repetitiva, que cause sofrimento ao indivíduo agredido, que tenha o objetivo de intimidar ou agredir e que ocorra em uma situação desigual de poder. Tendo esses elementos podemos caracterizar o bullying na escola ou em qualquer outro contexto. E pode ocorrer também em indivíduos de qualquer idade.

O estudantes, contudo, formam um grupo de vulnerabilidade, pois estão em situação especial de desenvolvimento do seu caráter e de outras características psicológicas. Posso dizer que todos nós desenvolvemos crenças sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre o mundo. E as agressões repetitivas têm o poder de estimular o desenvolvimento de crenças muito negativas. O indivíduo agredido pode, por exemplo, começar a pensar que é uma pessoa fraca, que não tem competência, que sua vida não tem valor ou que as pessoas no geral não são confiáveis, que o mundo é um local perigoso, que as pessoas são ruins. Inúmeras crenças negativas podem ser criadas a partir das agressões. E essas crenças, quando ativadas em nossa mente, produzem, por sua vez, emoções e comportamentos muito negativos, como raiva, vergonha, culpa, tristeza, vontade de se isolar e, às vezes, até de se matar ou de matar terceiros, como temos visto acontecer recentemente no Brasil e no mundo.

Como pais e responsáveis podem perceber que o filho está sofrendo desta agressão?

Olha, não tem receita mágica nem um comportamento específico de quem sofre bullying, pois o comportamento do agredido vai variar de acordo com as crenças negativas que ele construir sobre si mesmo, os outros e o mundo. Contudo, os pais precisam ficar atentos a quaisquer mudanças de comportamento do filho, se ele passou a se isolar mais, se se apresenta mais triste do que o normal ou com mais raiva e irritação do que o normal, se perdeu o interesse por sair, se já for um adolescente, ou se está estudando menos ou tendo mais dificuldade em aprender. Toda mudança de comportamento deve ser observada com atenção pelos pais.

Devido aos casos recentes de tragédia nas escolas, profissionais estão debatendo que pode ser que seja bullying. Você acredita que o bullying desencadeia essas ações?

Veja bem, aqui nos deparamos com uma questão ampla sobre o que é causa e efeito. Nenhum comportamento humano tem uma causa bem delimitada, sempre é fruto do enlace de todas as características que nos fazem ser quem somos. Em outras palavras, todo comportamento humano é uma escolha. Então nunca poderemos atribuir ao bullying a causa direta de algum comportamento, pois depende de como o indivíduo agredido vai reagir às agressões. Porém é claro que o bullying é um forte estímulo ao desenvolvimento das crenças negativas que falei há pouco e que, dependendo de como essas crenças são ativadas na mente do indivíduo, elas podem modificar drasticamente seu comportamento e a forma como a pessoa enxerga o mundo, tornando, por exemplo, suas atitudes mais agressivas e violentas.

Sobre as escolas, quais as medidas e ações que a direção pode tomar para ajudar na prevenção do bullying?

Não sou especialista em psicologia escolar, mas creio que a escola pode agir em três frentes: conscientização dos efeitos do bullying, proteção aos agredidos e punição aos agressores. Antes de tudo é preciso ensinar aos alunos que bullying não é legal, que pode ter efeitos sérios sobre a personalidade dos indivíduos. Se os alunos tiverem empatia com o outro, enxergarem qualquer diferença como normal, verem o outro como igual a si, sem discriminação, dificilmente farão bullying. A segunda frente é proteger o aluno agredido das agressões, não permitir que isso aconteça na escola. A terceira é punir de alguma forma o aluno agressor, ensiná-lo que não se pode fazer isso. Conversar com os pais é sempre um caminho importante. A relação entre escola e família deve ser o mais próxima possível.

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Redação