‘Lagoa não é tão tradicional, mas tem seus pontos fracos: Falta representatividade!’, diz trans

Pessoas trans falaram sobre dificuldades enfrentadas por morarem no interior. (Foto: Patrícia Queirós/Arquivo Pessoal).

‘Lagoa não é tão tradicional, mas tem seus pontos fracos: Falta representatividade!’, diz trans

Matheus Costa

É perceptível que a maior parte da violência no Brasil é contra a comunidade LGBTQI+, sobretudo contra transexuais. O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo e independente da classe social ou localidade, a pessoa trans sofre de diversas violências, só por ser quem é. Tanto na rua, quanto dentro de casa, pela própria família.

E para que a barreira gigante de preconceito seja quebrada de vez, é comemorado nesta quarta-feira (29), o Dia Nacional da Visibilidade de Transexuais e Travestis. A data foi criada em 2004, na ocasião do lançamento de uma campanha do movimento de pessoas trans, em parceria com o Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde.

Em razão da data, nesta quarta-feira, a redação conversou com um homem trans de Lagoa da Prata, e uma mulher trans da cidade vizinha Japaraíba.

O homem preferiu não se identificar, mas contou que se assumiu primeiramente para sua namorada.

Segundo ele, não foi uma decisão fácil, pois não imaginava como seria a reação dela, mas ele conta que correu tudo bem, afinal ela já tinha conhecimento sobre o assunto e aceitou tudo da melhor forma possível.

“Ela me apoiou e me apoia em tudo relacionado a esse assunto, sempre paciente e carinhosa. Inclusive, foi ela quem me encorajou e me ajudou a assumir para meus amigos, entretanto, ainda não me assumi para a família ainda. Esse é um assunto muito delicado de lidar, principalmente com familiares e creio que tudo tem um tempo certo, então optei por esperar me sentir pronto”, disse.

Ele também contou que a maior dificuldade que enfrenta é a falta de representatividade, alegando que ainda falta muita informação a respeito e nem todos possuem acesso a informações de uma forma mais ‘simplificada’ em uma cidade pequena.

“Se você pesquisar sobre o tema na internet, o que mais encontra são manchetes sensacionalistas, reportagens cheias de preconceito e muita informação errada. Apesar de que Lagoa não é uma cidade tão tradicional, ainda  tem seus pontos fracos. Essa falta de representatividade e informação acaba fazendo com que muitas pessoas confundam Identidade de Gênero e Orientação sexual, isso faz com que fique mais difícil o entendimento sobre. Portanto, seria muito interessante se houvessem mais debates, informações e matérias sobre o tema na mídia local”, declarou.

Patrícia Queirós, antes e depois da transição. (Patrícia Queirós/Arquivo Pessoal).

O preconceito

E como todos da comunidade, ele também já sofreu do preconceito, mas disse que foram poucas as vezes que teve que lidar com isso diretamente.

“Na maioria das vezes o preconceito vem mascarado, de forma sútil, principalmente em forma de piadas. Mas tento lidar da melhor forma possível e tento não deixar me abalar. Por mais que seja difícil, é o melhor a fazer. Sei que tenho pessoas especiais que amam independente de qualquer coisa, e isso é o importante, é nisso que penso em situações desse tipo. Eu mesmo tenho o costume de relevar, mas, em determinadas situações já é um pouco mais difícil”, finalizou

Em Japaraíba, Patrícia Queirós contou que a família aceitou bem quando se assumiu, e por isso nunca sofreu preconceito da parte deles. Porém, uma das dificuldades que enfrentou, foi na área de trabalho em Lagoa da Prata.

“Uma das dificuldades que encontrei em Lagoa, por ser uma cidade pequena, foi na área do trabalho. Mas acho que a partir do momento que você estuda e luta naquilo que você quer, a gente conquista”, disse Patrícia.

Apesar de tudo, ela afirma que lidou com o preconceito do jeito certo, que é não ligando para o que as pessoas falam ou acham dela.

Por fim, ela disse que acha que a comunidade LGBTQI+ tem que se unir para serem mais forte, “porque o Brasil é um dos países que mais mata nesse meio, e eu acho que se nos unirmos e com respeito ao próximo, nós vamos conseguir ter nosso respeito”, finalizou.

Dia Nacional da Visibilidade de Transexuais e Travestis é celebrado nesta quarta-feira (29) (Foto: LIT-CI)

LGBTQI+

A sigla é dividida em duas partes. A primeira, LGB, diz respeito à orientação sexual do indivíduo. A segunda, TQI+, diz respeito ao gênero.

L: lésbica; é toda mulher que se identifica como mulher e têm preferências sexuais por outras mulheres.

G: gays; é todo homem que se identifica como homem e têm preferências sexuais por outros homens.

B: bissexuais; pessoas que têm preferências sexuais por dois ou mais gêneros.

T: transexuais, travestis e transgêneros; pessoas que não se identificam com os gêneros impostos pela sociedade, masculino ou feminino, atribuídos na hora do nascimento e que têm como base os órgãos sexuais.

Q: queer; pessoas que não se identificam com os padrões de heteronormatividade impostos pela sociedade e transitam entre os “gêneros”, sem também necessariamente concordar com tais rótulos.

I: intersexuais; antigamente chamadas de hermafroditas, são pessoas que não conseguem ser definidas de maneira distinta em masculino ou feminino.

+: engloba todas as outras letrinhas de LGBTT2QQIAAP, como o “A” de assexualidade e o “P” de pansexualidade.

Identidade de Gênero e Orientação Sexual

A identidade de gênero é o gênero com que a pessoa se identifica. Há quem se perceba como homem, como mulher, como ambos ou mesmo como nenhum dos dois gêneros: são os chamados não binários

Cisgênero: Identifica-se com o mesmo gênero que lhe foi dado no nascimento

Transexual e/ou transgênero: Identifica-se com um gênero diferente daquele que lhe foi dado no nascimento

A orientação sexual depende do gênero pelo qual a pessoa desenvolve atração sexual e laços românticos:

Heterossexual: Por alguém de outro gênero

Homossexual: Por alguém do mesmo gênero

Bissexual: Por ambos

(A assexualidade é a ausência de atração por todos os gêneros. Mas ainda não há consenso se ela é ou não uma orientação sexual).

Redação