“A saúde mental é o motor do corpo saudável”, reforça psicóloga lagopratense sobre campanha ‘Setembro Amarelo’

(Foto: Raquel de Alencar/Reprodução da Internet)

“A saúde mental é o motor do corpo saudável”, reforça psicóloga lagopratense sobre campanha ‘Setembro Amarelo’

A campanha do “Setembro Amarelo” surgiu em 1994 e carrega a prevenção ao suicídio como principal objetivo. Nas redes sociais, o mês ganhou mais visibilidade, mas ainda é necessário discutir a eficácia dessas campanhas e o mais importante: não esquecer do problema nos demais meses do ano.

O Sou+Lagoa conversou com Raquel de Alencar, psicóloga clínica, sobre como essa campanha pode ser mais efetiva e a quais sinais devemos ficar atentos.

“Como profissional da saúde e especificamente da saúde mental, eu penso todos os dias em como promover a minha saúde mental e estar apta a ouvir cada paciente, parente, amigo, vizinho e familiar de maneira que o mínimo escape aos meus ouvidos”, disse. 

Para ela, a efetividade da campanha vem do apoio, da disponibilidade afetiva e de escuta, onde todos os indivíduos e os meios de comunicação podem promover apoio e divulgar o cuidado com a saúde mental.

“Considero uma evolução o Brasil falar e ter um mês especial para discutir sobre o suicídio e a saúde mental. Eu cresci numa sociedade que isso e muitas outras doenças eram responsabilidade do doente; o suicídio é preocupante e não deve permanecer um tabu, um não dito, uma coisa que acontece na outra família, um silêncio sigiloso. Todo ser humano adoecido em sua saúde mental tem potencial de se matar, essa é a nossa realidade, crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, em qualquer fase do nosso ciclo de vida podemos desistir de dar continuidade à nossa história”, reforçou.

A psicóloga apontou que dificuldade nas relações afetivas, familiares, amizades e trabalho são as queixas mais recorrentes em seus atendimentos. A falta de perspectiva e de vontade, insônia, raiva e medo são sentimentos que, se permanentes, podem indicar um desequilíbrio psicológico. Raquel ainda reforça que muitas queixas levadas pelos pacientes aos médicos, são adoecimentos de ordem psicológica, que podem afetar a pressão arterial, causar taquicardia, dores físicas, problemas na coluna, na pele e etc.

“Muitas pessoas que usam bem a internet pesquisam seus sintomas e procuram ajuda para melhorar a qualidade de vida, adoecer menos, comunicar mais, vencer um medo, elaborar uma situação, etc. Alguns médicos mais atentos, percebem que muitos sintomas e queixas não tem fundo orgânicos, são doenças e adoecimentos psicossomáticos ou situações que a pessoa está vivendo”, explicou.

Entre as demais causas possíveis, encontram-se abuso sexual atual e ou precoce, perca de alguém que ama, separações, perda de emprego, ser demitido, fechar um negócio, perdas financeiras abruptas; esses gatilhos podem ocasionar sinais como sentir-se sem saída, sem futuro, sem perspectiva e sonhos, segundo Raquel.

“Viver situações novas podem desencadear algum transtorno ou depressões, por exemplo: uma promoção inesperada no trabalho, ser demitido sem orientações, primeira menstruação, mudanças de fase de ciclo de vida, da infância para adolescência, da adolescência para a vida adulta, primeiro filho, após o casamento, menopausa, situações do envelhecimento, separações matrimoniais, decidir sobre a profissão e aposentadoria”, falou. 

Raquel ainda reforçou: o melhor caminho para a prevenção é quebrar os estigmas e os preconceitos. Entendendo as doenças mentais, é mais fácil combatê-las. Conforme ela, a saúde mental é o motor do corpo saudável.

“Ser doente mental não é ser louco e [ser] internado num hospital psiquiátrico. Doença mental vai acontecer com qualquer um de nós em algum momento da vida, principalmente porque vivemos sob muito estresse e pressão em diversas formas”, declarou. 

Outra dificuldade que é perceptível no discurso das pessoas é ser avaliado e passar em consulta por um psiquiatra. Mas a psicóloga ressaltou que o psiquiatra é um médico como qualquer outro, que apenas realiza cuidados específicos para a mente.

“As pessoas ainda se sentem como se estivessem sendo julgadas, ameaçadas e como se esse médico não fosse uma especialidade como as demais. O psiquiatra cuida da mente física, neurônio, neurotransmissores, cérebro, cerebelo, funcionamento ideal entre o corpo físico e a mente. Se você quebrar o braço, você vai procurar um ortopedista, seus ossos vão precisar de cuidados específicos, compreende?”, explicou.

Outra dificuldade apontada por ela é a resistência das pessoas em buscar pela primeira vez um profissional da psicologia. A terapia é um estigma para muitos, mas é o caminho para se conhecer e compreender suas próprias questões.

“O profissional da psicologia oferece um tratamento psicológico, [onde] você vai falar dos seus problemas e dificuldades, do motivo que te levou ao consultório, vai contar sua história de vida, contar como foi criado, quais os valores e dificuldades da sua família. E como você se percebe no seu meio familiar, entre amigos e trabalho, vai se ouvir falando e compreenderá muitas questões. Serão feitas várias intervenções, questionamentos que vão te ajudar a desconstruir sentimentos, pensamentos e fantasias. O seu psicólogo deve ser uma pessoa que você se sinta à vontade, fale tudo, sem medo e receio, sem barreiras. Ele não vai te julgar, não vai te comparar e trabalha com sigilo ético profissional. Ele poderá usar testes psicológicos, questionários, instrumentos para te ajudar a questionar melhor e te orientar sobre seu modo de funcionamento”, esclareceu ela. 

Por fim, a psicóloga destacou que sintomas como mudança de comportamento, isolamento, automutilação, falar na morte como a solução para os problemas, dificuldade em manter vínculos, sono desregulado, agressividade, baixa energia e outros, podem ser indicativos da necessidade de buscar ajuda profissional. Estabelecer diálogo e ficar atento aos sinais é o começo do caminho para que o adoecimento mental seja evitado.

Ana Isa