O pesquisador Fernando Moreira e o engenheiro ambiental, Henrique Rocha, na Mata do Urubu em Lagoa da Prata. (Foto: Alan Russel/Jornal Cidade)
Raros faveiros: Espécie ameaçada de extinção é objeto de pesquisa em Lagoa da Prata
Lagoa da Prata recebeu na semana passada a visita de um importante pesquisador do meio ambiente e conservação da flora, Fernando Fernandes, engenheiro florestal formado pela Universidade Federal de Viçosa, que trabalhou por 26 anos no Jardim Botânico de Belo Horizonte – o pesquisar passou pela região pois estava à procura de uma espécie de árvore que se encontra ameaçada de extinção. A árvore rara é conhecida como faveiro da mata, encontrada quase que exclusivamente na região central de Minas, onde os biomas da mata atlântica e cerrado se encontram.
O engenheiro florestal já havia catalogado espécies de faveiro na cidade no ano de 2004, voltou ao município para acompanhar a evolução dos raros faveiros mas desde 2003 Fernando pesquisa e trabalha com o intuito de proteger e propagar três espécies de faveiros raros: o faveiro da mata (Dimorphandra exaltata), espécie encontrada no município de Lagoa da Prata; o faveiro de Wilson (Dimorphandra wilsonii) e o faveiro do campo (Dimorphandra mollis). Fernando explicou sobre a necessidade de estudar e, consequentemente, preservar as espécies de faveiros raros.
“O primeiro passo para proteger qualquer espécie é conhecê-la bem. Por isso, muitas pesquisas vêm sendo feitas com essas espécies de faveiros: para descobrir seus segredinhos, ou seja, ambiente onde vivem, do que necessitam para sobreviver e quais são suas características biológicas. Estive aqui há 16 anos quando cataloguei dois faveiros. A visita agora é para analisar a atual situação destes faveiros, monitorar as árvores já catalogadas, tirar as medidas para ver o crescimento, analisar o ambiente, detectar se não há risco para a árvore, além de manter contato com o proprietário das terras”, informou.
A descoberta dos raros faveiros em Lagoa da Prata
Localizada na região noroeste de Lagoa da Prata está a Mata do Urubu, um fragmento de mata ciliar no município. Roberto Rocha, proprietário de um sítio na borda da mata, morou e preservou o local por muitas décadas. De forma empírica, Roberto estudou as espécies existentes na mata e foi responsável por inserir diversas outras espécies na reserva florestal.
Mas foi em 2004, após se informar por um cartaz do Instituto Estadual de Florestas (IEF), que Roberto entrou em contato com o pesquisador do Jardim Botânico, para informar que havia descoberto a existência dos raros faveiros na mata que margeia o Rio São Francisco em Lagoa da Prata.
Após o falecimento de Roberto. o filho, Henrique Rocha, engenheiro florestal formado pela Universidade Federal de Diamantina, segue o trabalho iniciado pelo pai na Mata do Urubu. “Meu pai herdou esse rancho de um tio avô, e como gostava muito de pescar, se estabeleceu aqui. Durante muitos anos ele produziu mudas que foram plantadas em diversos pontos de Lagoa da Prata e também na conservação aqui da Mata do Urubu. Eu cresci vendo esse contato do meu pai com a botânica, acabei tomando gosto, estudei engenharia florestal e hoje trabalho com intuito de preservar este fragmento de mata”, explicou Henrique.
A expedição na Mata do Urubu também teve a participação do ambientalista Saulo de Castro, este que esteve na descoberta dos faveiros, juntamente com Roberto em 2004. Saulo salientou o interesse na reprodução das espécies em viveiros, para que a população tenha a oportunidade de replantar e consequentemente preservar os faveiros.
“Desde 2004 mantemos contato com Fernando no intuito de preservar essa espécie tão importante para a fauna e flora. Estamos bastante empenhados, na certeza de que vamos conseguir preservar esta espécie na Mata do Urubu. Também temos interesse na reprodução dos faveiros em viveiros, para que possamos replanta-las nas praças da cidade e em áreas de recuperação. A intenção é que essa espécie possa se perpetuar e não se perder”, destacou Saulo.
Nova espécie de faveiro da mata em Lagoa da Prata
Enquanto o pesquisador Fernando Moreira media e coletava dados dos faveiros já catalogados em 2004, Henrique Rocha em observação pela mata, descobriu outra árvore da mesma espécie. Agora são três faveiros da espécie Dimorphandra exaltata catalogados na Mata do Urubu em Lagoa da Prata.
O novo faveiro catalogado tem aproximadamente oito metros de altura, enquanto os faveiros catalogados em 2004 tem em torno de quinze metros. O novo exemplar encontrado na mata do urubu fica a aproximadamente 15 metros de distância dos faveiros catalogados 16 anos atrás. Estima-se que existam apenas 500 faveiros da mata no planeta, todos na região do sudeste do Brasil e a grande maioria na área central do estado de Minas Gerais.
Para pesquisador Fernando, em Lagoa da Prata deve haver mais faveiros da mata para serem catalogados, e o engenheiro ambiental Henrique, que conhece bem a região, garante que vai continuar atento para possível catalogação de novos faveiros. “Depois de conhecer e conversar com o Fernando eu passei a conhecer melhor a espécie e agora fica mais fácil para procurar outros possíveis faveiros da mata, não só aqui na mata do urubu, mas em todo o município de Lagoa da Prata”, finalizou Henrique.
(Informações desta reportagem foram coletadas pelo jornalista Alan Russel do Jornal Cidade. Para publicação no Sou+Lagoa, os dados foram editados conforme a editoria do veículo).