(Foto: Reprodução da Internet)
“Ofereça a escuta, mas depois é fundamental orientar a busca de ajuda profissional”, diz psicóloga lagopratense
Bárbara Félix
“A pandemia tem provocado muitas reações emocionais e desencadeando muitos sintomas psicológicos. Podemos dizer que ela está funcionando como um gatilho para o surgimento de transtornos mentais”, disse a psicóloga Patrícia Ângela Pinto, de Lagoa da Prata, sobre como falar sobre a prevenção do suicídio durante esta pandemia do novo coronavírus, visto que neste ano, o Setembro Amarelo, mês de prevenção e conscientização à causa ocorre em meio ao caótico cenário da pandemia.
No dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas vale destacar que a campanha acontece durante todo o ano, ou seja, não é apenas em setembro.
Assim, a psicóloga falou ao Sou+Lagoa, sobre as ações adaptadas neste ano, sobre o cuidado com a prática da empatia e sobre consumo de notícias, que têm desencadeado muitas emoções negativas.
Conforme Patrícia, neste ano no Setembro Amarelo, já que não pode ocorrer aglomerações, não está sendo possível realizar diversas ações como acontecia em outros anos, mas ressaltou que há o recurso tecnológico a favor da causa, “e mais do que nunca, a mídia tem condições de informar e conscientizar o seu público. Contamos também com o recurso das inúmeras lives que falam diretamente sobre o tema ou atuam também enfocando a questão emocional da pessoas e como esta pode lidar melhor com esse novo contexto”, disse.
Patrícia também falou sobre o consumo de notícias e explicou sobre a prática da empatia neste momento de tanta fragilidade, afinal, muitas vezes alguém próximo pode estar sentindo alguma ‘dor’ interna, mas alerta sobre.
Segundo ela, notícias ruins sempre existiram e cada um tem a livre escolha de mergulhar ou não em transmissões sensacionalistas. “Sugiro que ao buscar por notícias, a pessoa opte por sites e canais mais alinhados com a ciência, sem se prender a especulações. O mergulho em noticias ruins causam pânico e desesperança”, afirmou a psicóloga que ainda falou sobre o cuidado com a prática da empatia. “Se colocar no lugar do outro não significa pegar o problema dele para você. Isso não o ajuda e ainda compromete o ajudante. Se colocar disponível para a pessoa é uma opção, mas sem forçar nada. Por exemplo, se a pessoa te pede um copo de água e você lhe despeja um balde de água na sua cabeça, é excessivo. As vezes basta oferecer a escuta, depois é fundamental orientar a busca de ajuda profissional. Apesar de muitas pessoas se intitularem “psicólogos”, a psicologia é uma ciência, que deve ser praticada por quem tem formação para tal. As questões emocionais são muito sérias e devem ser tratadas com muito respaldo técnico. Então, é importante que o ajudante não vá além do que o ajudado precisa e que também não assuma além do que consegue carregar”, alertou Patrícia.
Alerta aos fatores e sinais
A respeito de outros fatores que deixam as pessoas vulneráveis a terem depressão, e consequentemente, cometerem suicídio, a psicóloga alega que cada ser é individual, com uma história única, e destacou ainda que doenças mentais, incluindo a depressão, podem ter raízes na família, sendo transmitida geneticamente ou através do inconsciente familiar, estudo do qual a epigenética, tem dado muitas contribuições, uma vez que considera a transmissão emocional através das gerações.
Outro ponto que Patrícia salientou foi o contexto no qual a pessoa está inserida, e de acordo com ela, isso inclui as relações no geral, sendo família, trabalho, amigos, relações afetivas. “Também a forma como a pessoa se posiciona perante sua vida, o que faz com suas experiências, expectativas, crenças, frustrações. Qual é sua postura perante a vida, a considera um peso, ou um presente? A depressão, o transtorno bipolar do humor são, na maioria dos casos precedentes ao suicídio. Por isso é que a saúde mental deve ser levada mais a sério. Normalmente, as doenças mentais começam leves e se agravam por falta de tratamento e infelizmente culminam em suicídio, a pessoa no desespero, opta por matar a dor, uma das mais insuportáveis das dores retidas pelo ser humano”, declarou.
Quantos aos sinais, a psicóloga disse que podem ser nítidos ou velados, dentre estes, a perda de sentido por atividades prazerosas, apatia, desânimo, queixas, sentimentos de menos valia, começar a doar e se desfazer de bens, isolamento, introspeção, choro, angústia, perda de sono e apetite, dentre outros. “Esses sinais não devem ser considerados de forma isolada, ao percebe-los, é fundamental buscar ajuda”, explicou Patrícia.
Depressão não é frescura
A depressão é uma das doenças mais incapacitantes do mundo. Antes da pandemia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 120 milhões de pessoas sofrem da doença no mundo, e conforme Patrícia, esse número pode aumentar significativamente como efeito pós-pandemia. “Doença mental, não e frescura, falta de serviço, como costumam dizer por aí. E sim, devemos nos atentar 365 dias no ano para sua importância, claro que trabalhar o mês de setembro como uma maior conscientização tem efeitos, que podem ser prolongados e atingir mais pessoas se tiver uma atenção efetiva. Em primeiro lugar, olhem para si mesmo, se pergunte, questione como anda seu emocional, como anda sua vida, quem a tem dirigido: você ou suas vontades, impulsos? Não hesite em pedir ajuda e se tiver condições não hesite em ajudar”, declarou a psicóloga, que completou falando que ao abrir espaço para o diálogo, significa disponibilizar acolhimento e propiciar a pessoa adoecida um lugar de referência para que naquele momento ela possa se apoiar e quem sabe dar um novo significado para sua vida.
E para isso, existe o Centro de Valorização da Vida (CVV), que conta com apoio telefônico 24h, 365 dias do ano. Clique aqui para acessar o site do CVV.
Bem-estar da mente neste momento: é possível?
Apesar do cenário caótico e incerto de pandemia, a psicóloga Patrícia disse que o mundo está diante de uma grande oportunidade de crescimento pessoal e também para evoluir como seres humanos. “Parar as atividades, nos deu a oportunidade de reconectar com nosso eu e com o essencial da vida, nas palavras de Bert Helinger ‘criador das constelações familiares, o essencial é simples . Então olhar para dentro de si, significa valorizar quem você é, com suas raízes, ou seja, sua família. Tomar esse lugar como sua força e seguir em frente com tudo que a vida e o mundo lhe oferece, coisas boas e ruins. Em suma, significa olhar para si, o que se tem, deixando de lado as mazelas. Mudando a postura abre- se a possibilidade para a valorização daquilo que esta disponível, cada um sabe o que lhe faz bem, aqui também não temos um padrão”, finalizou.