Após sepultar filha no Natal, Idosa realiza decoração em toda a casa e abre para visitação

(Foto: Gabriel Barbosa)

Após sepultar filha no Natal, Idosa realiza decoração em toda a casa e abre para visitação

Reportagem: Bárbara Félix

Para fechar o ciclo de 2019, que para muitas pessoas foi difícil e dolorosa, o Sou+Lagoa buscou uma forma de trazer a alegria e principalmente o espírito natalino para a cidade que tanto ama.

A redação foi conhecer a história de paixão pelo Natal de uma moradora de Lagoa da Prata. Maria José, de 85 anos, contou com amor, religiosidade e muita emoção como a data em que é celebrado o nascimento de Jesus transformou sua vida e também a vida de muitas pessoas a partir de um ato tão singelo de decorar a casa inteira.

O Natal é sobre simplicidade e amor

Não é de hoje que a paixão que Maria José – ou dona Maria como é carinhosamente conhecida na Rua Francisco Bernardes Primo, onde mora atualmente – é presente!

Em conversa com o Sou+Lagoa, ela destacou que carrega o sentimento que nasceu lá na infância até hoje. “Era uma alegria quando minha mãe falava para irmos dormir mais cedo porque o Papai Noel logo viria! Eu ficava muito ansiosa para que amanhecesse e ficava esperando o galo cantar para me levantar da cama”, contou Maria.

A simpática senhorinha ainda falou que mesmo sendo muito humilde e com poucos recursos na época, não deixou o espírito de Natal ser minimizado. Com muita simplicidade, mas regada de amor pela data, Maria fez o seu primeiro presépio de argila, algo que segundo ela, não consegue esquecer.

Mas hoje, já com melhores condições, ela é dona de muitos artefatos natalinos, os quais tem muito “ciúme”, afinal grande parte da decoração foi seu filho João Oliveira que trouxe de outros países.

Todo o processo de decoração começa em novembro. (Foto: Gabriel Barbosa)

Dona Maria ressaltou que assim que chega o mês de novembro, já convoca os filhos para poderem começar a montagem do presépio e também para darem início na instalação das luzes de Natal, que vão além do típico pinheiro! As árvores na calçada da casa e o telhado da varanda também são enfeitados com “pisca-pisca”.

Toda a decoração natalina vem sendo feita há quase dez anos, e segundo Maria, ficar olhando as luzes de Natal e os enfeites desperta um sentimento de imensa felicidade.

“Há dias de felicidade, outros de tristeza, mas isso nunca me impediu de fazer a decoração de Natal, porque para mim, enfeitar toda a casa é a maior alegria que tenho na vida”, declarou Dona Maria.

Uma casa que recebeu o espírito de Natal a partir da dor

Como a própria Maria disse, nem os momentos de tristeza impede que ela decore a casa para o Natal, e foi justamente perante a dor de uma perda que o real espírito natalino encheu a casa de dona Maria de luz.

Emocionada, ela contou que passou por um momento muito difícil no dia 8 de dezembro entre os anos de 1992 e 1993, quando uma de suas filhas faleceu na Itália. Dona Maria falou que foram dias de muito sofrimento para poder fazer o traslado do corpo, processo que foi bastante difícil na época pelo custo ser bastante elevado.

“Foram dias muito difíceis na espera da liberação do corpo e estava quase perdendo as esperanças. Ao fim de tudo eu clamei para Deus, e disse estava entregando minha filha nas mãos Dele. Logo conseguimos ajuda de amigos, da igreja e administração municipal e conseguimos trazer o corpo para o Brasil, e ela foi sepultada no dia 25 de dezembro, no dia de Natal”, disse dona Maria.

Mesmo no momento difícil que dona Maria passou, a luz do Natal jamais abandonou a sua casa. (Foto: Gabriel Barbosa)

Após o sepultamento, dona Maria relatou que ao chegar em casa, sentiu uma revolta tão grande que colocou o presépio para fora e se deitou no sofá, tomada pelo sentimento de tristeza. E foi justamente neste momento de extrema infelicidade e desesperança que algo místico aconteceu, fazendo com que o real sentido do Natal renascesse na casa.

“Eu não sei se foi uma visão ou se foi um sonho que tive, mas ouvi uma voz me chamando e dizendo para mim que a vela do presépio, que sempre ficava acesa durante toda a noite de Natal, já estava apagando. Rapidamente eu me sentei, e vi que a vela estava quase chegando ao fim. Com isso, peguei o presépio e o montei novamente dentro da casa. Através do que aconteceu, do que ouvi, eu consegui ter forças para continuar acreditando no Natal”, declarou Maria.

A luz que renasce é compartilhada nas famílias

É a partir da força de dona Maria, matriarca de uma família, que outras famílias tem a oportunidade de conhecer a verdadeira alegria do Natal, afinal basta passar pelo portão da frente da casa, que uma emoção fora do comum toma conta dos corações de quem visita.

João Oliveira, um dos filhos de dona Maria, declarou que com a decoração natalina que ele e os irmãos fazem todos os anos para a mãe, dá oportunidade para muitas pessoas conhecerem o que é o Natal.

“Toda essa decoração proporcionou que outras famílias conhecessem o verdadeiro significado do Natal, afinal muitos pais trazem os filhos para terem as primeiras experiências e lembranças da data aqui em casa. Muitos contam que a após terem vindo aqui, ficaram inspirados, e decoraram uma árvore em casa”, disse João.

Com toda a ternura familiar, João também contou que na noite de Natal na casa mais decorada de Lagoa da Prata, além dos filhos, netos e bisnetos, há muitos convidados que prestigiam e celebram o nascimento de Jesus com dona Maria. E não tem cerimônia, não! A família faz questão de receber todo mundo para ver a decoração, comer e celebrar a data que é tão importante.

Natal é felicidade, apesar de tudo

Os dias difíceis, as perdas, o desemprego, a falta de esperança e todos os outros percalços que o mundo todo sofreu neste fim de década são coisas fora de nosso controle, mas apesar disso tudo o Sou+ Lagoa espera que com esta história sobre o amor, superação e respeito pelo Natal, a chama da felicidade possa reascender nos corações de Lagoa da Prata, assim como reascendeu a morada de dona Maria em um momento de dor.

Redação