(Foto: Ana Ruth Laine)
“Se uma pessoa compreender o que queremos passar com a dança, já vale a pena”, diz bailarina de Lagoa
Reportagem: Bárbara Félix
Colocando a paixão entre os movimentos e em cada passo, os bailarinos e bailarinas de Lagoa da Prata têm os holofotes neles quando sobem ao palco e dançam com a alma, expressando através da dança o talento, esforço, dedicação e amor pelo que fazem.
E em uma cidade onde a população respira cultura, esses bailarinos deixam todos de queixo caído com performances em festivais anuais e competições por meio da dança.
Para enfatizar os talentos da terra lacustre, o Sou Mais Lagoa reuniu em reportagem cinco dançarinos de Lagoa da Prata que falaram sobre a vida de ensaios, carreira, competições e muito amor.
Pioneira na carreira da dança, a jovem Bianca Mayra de 26 anos, é além de bailarina, diretora e professora do Estúdio de Dança Impactus. Segundo ela, os primeiros passos em direção ao balé começaram quando era criança.
“Minha mãe me matriculou no balé com quatro anos de idade e danço desde então. Aqui em casa em especial, respiramos arte! A dança é tudo! Meu lazer e minha profissão, além disso, com tantos problemas sociais que vivemos, na dança encontro formas de mudar um pouco nossa realidade, transformando o mundo em um lugar melhor pras pessoas que me cercam”, contou Bianca.
Uma bailarina nata, com diversas modalidades no currículo, a jovem já fez cursos de dança de salão, bolero, forró, samba, flamenco, contemporâneo, mas se aprofundou e especializou em jazz, balé e dança do ventre, modalidades as quais leciona.
Bailarina e professora
Dividindo a paixão por dançar com a missão de ensinar, Bianca ressalta que formar bailarinos e ser professora de dança é o que a faz feliz.
“Gosto de dançar, mas o que me realiza é ensinar. O que as pessoas às vezes confundem é que nem sempre um bom bailarino será um bom professor. É necessário estudar muito as técnicas, teorias, práticas, movimentos, suas bases, como preparar os bailarinos, evitar lesões e saber que a dança pode ir além do movimento em si. É importante saber sobre didática e o que passar para cada idade, e a partir disso, trabalhar na sua totalidade para que seja possível tornar e formar seres dançantes, inteligentes, aptos e felizes na atividade”, declarou a professora de dança.
Impactus é a casa de diversos bailarinos e está presente em festivais competitivos desde 2007, sendo muitos a nível estadual, nacional e internacional.
“Temos mais de 200 coreografias premiadas ao longo desses anos. Títulos de melhor escola de festivais, bailarinos e bailarinas revelação e destaque, convites para dançar em Los Angeles, Portugal, Miami e Argentina. Recentemente participamos do Festival de Joinville, em Santa Catarina, que é considerado o maior festival de dança do mundo”, ressaltou a professora.
Bailarina, professora e diretora de estúdio de dança, Bianca é certamente uma grande influência para seus alunos. De acordo com ela, o objetivo é ser instrumento para guiá-los não só com a dança, mas também para ajudá-los na formação como pessoas de bem.
“Tenho ótimos bailarinos, muitos melhores que eu, mas quero ajudar principalmente, a formar pessoas de caráter. Sou tipo ‘mãezona’ mesmo, me preocupo com as notas na escola, se vejo na rua sozinhos já quero saber aonde vão, puxo orelha mesmo”, evidenciou Bianca.
Falando ainda sobre influenciar, Bianca também salientou que aqueles que querem seguir carreira na dança precisam trabalhar muito.
“Estude, trabalhe muito, pesquise, faça cursos, viagens e se atualize! Nascer com o dom, ter facilidade e ser criativo é importante, mas se dedicar é essencial para conseguir realizar um bom trabalho e sobretudo, seja ético! Não há bom profissional sem ser ético”, frisou a bailarina.
Dançar é pra quem quiser!
Um talento que faz parte da casa Impactus é Luiz Filipe, um jovem bailarino de 14 anos, que além da dança, ama cantar. Em conversa com a redação, Luiz contou que se apaixonou pela dança aos cinco anos.
“Eu vi esse lado mágico e maravilhoso que eu tinha, e minha mãe sempre me apoiou, nunca me disse ‘não’, mesmo que algumas pessoas da minha família não gostem”, disse o bailarino.
Embora o despertar tenha sido quando era criança, Luiz dança há apenas quatro anos, quando a professora Bianca Mayra o viu em uma apresentação.
“Tudo começou nos Jogos Escolares de Lagoa da Prata (Jelp), tinha uma competição de dança que me apresentei, aí a professora Bianca viu e me chamou pra fazer aula”, contou Luiz.
Bailarino de jazz, o jovem declarou que a dança para ele é algo que liberta e faz com que a pessoa se encontre.
“Você se expressa e isso é muito bom, não tem nem como explicar. E mesmo com todas as dificuldades, como quando eu não consigo fazer alguma coisa, busco me esforçar, apesar de muitas pessoas julgarem, porque na cabeça das pessoas, homens não podem dançar, porque dançar é só pra mulher, mas eu não vejo que seja assim, então eu tenho muita força de vontade”, ressaltou.
Luiz é bastante jovem, mas é cheio de sonhos, como ser reconhecido e se superar a cada dia. O bailarino destacou que meninos que tem sonho de dançar, mas encaram o receio e julgamento, devem deixar a vergonha de lado e seguir o que realmente quer.
“Não há nada melhor do que correr atrás da sua felicidade ou de seu sonho”, disse Luiz .
Além do estúdio Impactus, outro espaço tradicional na cidade é o Studio de Dança Juliana Soares, onde a bailarina Ana Ruth Laine começou aulas há cinco anos.
Porém Ana Ruth foi introduzida ao mundo da dança e apresentações bem antes. Segundo ela, sempre foi baliza da fanfarra Fama da Escola Estadual Monsenhor Alfredo Dohr, onde estudou.
“Fiz parte da fanfarra em uma época incrível onde viajávamos pela região fazendo nossos desfiles. Adquiri certa flexibilidade sendo baliza, e assim surgiu o interesse pelo balé. Entrei para o balé clássico quando tinha uns 8 ou 9 anos. Fiz por pouco tempo, quase um ano. Na época acabava saindo caro para minha mãe pagar, então por esse motivo não fiz as aulas por mais tempo. Me lembro de ficar até o final do ano, e sai um pouco antes do Festival de Fim do Ano onde tínhamos que pagar pelo figurino e minha mãe não pôde arcar com as despesas. Depois de mais velha, já com os meus 19 anos na época, eu decidi tentar retornar e avançar nesse desejo de infância de ser bailarina”, informou Ana Ruth.
Ela conta que o que a guiou de volta para a dança e ganhou seu coração desde o início, foi o estilo contemporâneo.
“Comecei frequentando as aulas interessada neste estilo e depois fui também adentrando no balé clássico, jazz e nos outros estilos”, disse a bailarina.
Hoje, Ana Ruth faz parte do grupo Iluminar, que de acordo com ela, é um grupo mais complexo e flexível onde dançam vários estilos como balé clássico, contemporâneo, jazz moderno e livre, entre outros que vão surgindo com o passar das aulas.
Ao ser questionada sobre suas influências, a professora Juliana Soares foi colocada sob o holofote, além de Amanda Andrade e João Victor Alves Moreira, dois grandes amigos de Ana.
“Ela sempre me ensinou, corrigiu e acreditou e acredita em mim. Juliana tem serenidade e paciência de ajudar, qualquer pessoa que precisar. Também tem a Amanda, que sempre foi e será sempre uma influência pra mim. Grande parte do meu desenvolvimento na dança hoje em dia, veio dela. A criatividade dela como coreógrafa, mesmo tão nova, sempre foi de arrepiar. E o meu bailarino número um que sempre foi meu colega de aula, professor, coreógrafo e amigo João Victor”, declarou.
Ana Ruth afirma que a dança é arte pura, que em muitos momentos é uma terapia para um dia de desânimo e agitado.
“Uma aula de balé relaxa e parece que cura, nos renova. Tem dias que é um caminho de fuga. São histórias contadas através dos movimentos do nosso corpo. São mensagens e sentimentos que saem literalmente de dentro da gente e flui através de cada movimento. Seja uma dança para agradecer ou nos fazer refletir, para fazer críticas ou ajudar as que pessoas que nos assistem, pode ser uma dança para nos divertir ou consolar”, destacou Ana Ruth.
Cidade de muitos talentos, mas de pouco incentivo
A paixão exige muito do corpo do bailarino, tanto fisicamente como psicologicamente, como alega Ana Ruth, que disse que algumas dores específicas, os bailarinos tem que aprender a aceitar e conviver. Mas ela ressalta que a maior dificuldade que passa é o descaso.
“Além de não receber incentivo e ajuda para a realização de festivais, por exemplo, somos cobrados. Festivais nacionais onde representamos e levamos o nome da nossa cidade, nunca conseguimos ajuda alguma e nem reconhecimento. É claro que fazemos com amor, mas às vezes percebemos que infelizmente a dança, quando comparada aos outros eventos que acontecem na cidade, sempre é deixada de lado e não é tratada como arte. O desinteresse e descaso também acontece por parte das pessoas, onde às vezes acham caro pagar um ingresso de R$ 15 mais ou menos para assistir um festival onde os bailarinos e bailarinas ensaiam meses, se doam nos ensaios, gastamos com figurinos, montamos nossas danças sempre pensando em acrescentar algo para quem estará presente, enquanto gastam muito mais em um único dia sentados em um bar”, enfatizou.
Embora com todos os obstáculos, o amor pela forma artística de expressão é o que faz continuar, além das pessoas que amam e participam de tudo isso.
“Se uma pessoa compreender o que queremos passar com a dança, se uma pessoa apenas se emocionar, isso já vale a pena para continuar”, afirmou a bailarina.
O amor está na dança…
Vale mudar aquela típica frase “O amor está no ar”, para “O amor está na dança” quando se fala e vê o casal de bailarinos Geovana Paula de Oliveira e João Victor Alves Moreira.
Talentosos, brilhantes e apaixonados, o casal de namorados trilham um caminho na dança já há bastante tempo. Geovana, que dança há 14 anos, contou que sua carreira começou através de um sonho de sua mãe, que pretendia ser bailarina, e devido a isso, a matriculou aos quatro anos em uma escola de dança.
“Danço balé, jazz e contemporâneo e para mim, é uma forma de colocar em prática tudo aquilo que sinto, é uma forma que eu encontro de expor meus melhores sentimentos”, disse.
E falando de sentimentos, a jovem bailarina ressalta que sua maior influência é seu namorado, João Victor.
“Por todas as vezes que eu quis desistir, ele sempre me apoia, me incentiva e acredita em mim. Ele também é bailarino e nós nos conhecemos na escola, éramos muito amigos, até que um dia uma amiga nossa chamou ele para conhecer nossa escola de dança e ele foi, isso cinco anos atrás. Assim fomos ficando mais próximos, até que essa amizade virou amor. Hoje estamos juntos, já há quase quatro anos e de muitos que virão se Deus quiser”, declarou a bailarina.
Dançarinos ganham bolsas para cursar em diversos países.
A força do amor pela dança gerou bons frutos, que os jovens já estão colhendo. Ambos ganharam bolsas de estudos no Rio de Janeiro, porém apenas João Victor se mudou para lá.
“Ele ganhou uma bolsa 100%, com moradia e já está lá no Rio de Janeiro, se profissionalizando na escola Petite Danse. Eu não fui porque eu ganhei só 50% da bolsa, não tem moradia gratuita e ia ter que me preocupar com o restante da mensalidade além de outras coisas. Mas pretendo cursar dançar em Viçosa, já temos até a Camila Lobo Leita nossa bailarina cursando a faculdade de dança, e acho que vou me juntar à ela”, esclareceu Geovana.
João Victor, que atualmente está morando no Rio de Janeiro, começou com jazz, com intuito de começar na ginástica olímpica, mas como em Lagoa da Prata não tem, foi para o estúdio de Juliana Soares para fazer dança.
Segundo o jovem, com o tempo, os professores Ronaldo e Juliana viram que ele tinha potencial e começaram a cobrá-lo com mais afinco.
“Devido ao meu potencial, eles começaram a pegar bastante no meu pé, e foi onde fiz várias audições, para Barcelona, onde ganhei 50%, Miami ganhei 100% em Jazz e agora consegui no Rio. Não fui para Barcelona ou para Miami porque ficava muito caro”, contou João.
No Rio, João está fazendo parte do grupo ‘Dançar é Vida’, onde há vários bailarinos de todo o país, os quais recebem ajuda para participarem de competições e figurino, afinal, segundo ele as roupas custam em torno de R$ 1500.
A bolsa que o jovem ganhou é no valor de R$ 20 mil por ano, em um contrato de um ano e meio, que vai ajudá-lo a trilhar o caminho até os palcos e se tornar um grande bailarino.
Finalizando, o jovem também comentou que em Lagoa da Prata há pouco incentivo e apoio para a dança, o que torna tudo mais difícil.
“Nós bailarinos trabalhamos muito para pouco apoio. Infelizmente não temos apoio para trazermos mais cultura para nossa cidade”, concluiu o bailarino.
Olha o recado do menino aí empresários, Prefeitura…