A primeira formação da Fama, há 20 anos. (Foto: Arquivo Fama)
Tradição, história e pertencimento! Membros da “Fama”, de Lagoa da Prata, contam sobre suas participações na fanfarra
Fundada em 2002, a Fanfarra Monsenhor Alfredo (Fama), de Lagoa da Prata, carrega tradição, história e o sentimento de pertencimento há 20 anos e se prepara para o tradicional desfile de 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil.
A Fama, que surgiu em 29 de outubro de 2002, com dona Ângela Maria Rezende Couto, então diretora da Escola Estadual Monsenhor Alfredo Dohr – foi a Belo Horizonte receber o prêmio “Escola Sagarana” e, na ocasião, o Secretário de Educação sugeriu um esforço para o resgate de fanfarras nas escolas estaduais.
“Assim, surgiu o desejo de reativar a antiga Famcol, fanfarra que era regida pelo saudoso José Coutinho de Oliveira, e resgatar a cultura local. O primeiro passo foi conseguir a doação de instrumentos para composição da fanfarra. Com a iniciativa do Fortunado Francisco do Couto, o Natinho, vereador da cidade na época, dos comerciantes e pessoas da sociedade que acreditaram no desafio e na força da escola, depositando nela a sua confiança, vários instrumentos musicais foram adquiridos por meio de doações, pois além de acreditar que o sonho era possível também, gostariam de reviver aqueles momentos de tanta emoção”, informou a Escola Estadual Monsenhor Alfredo Dohr, ao Sou+Lagoa e Jornal Cidade.
Atualmente, a Fama conta com, aproximadamente, 50 instrumentistas, 27 portas bandeiras, três estandartes e inúmeras balizas. E os membros da fanfarra são alunos, professores, pais, ex-alunos, veteranos e com a comunidade escolar, que vive juntamente com a escola, o prazer de levar emoção para toda a cidade.
Neste ano, a Fama irá fazer sua participação nas celebrações do “7 de setembro”, e irá desfilar nas imediações da Praia Municipal, por volta de 8h.
Assim, o Sou+Lagoa e o Jornal Cidade também conversaram com três membros da Fama, Robson Damião, Thais Serapião e Ana Ruth, que contaram sobre suas participações na fanfarra.
Robson, mais conhecido como Robinho, é da vanguarda da Fama. Ele iniciou quando ainda era aluno da escola Monsenhor, em 2002, quando a diretora dona Ângela, juntamente com Nilsinho, conduzia a fanfarra.
Segundo Robson, até o ano de 2018 a fanfarra teve como maestro o Nilsinho, que com muito amor e dedicação comandava a equipe.
“Após ser diagnosticado com um problema de saúde, por um período contou com a ajuda do Reginaldo. Em 2019, Nilsinho precisou se afastar para cuidar da saúde. Neste momento, a pedido do diretor Rodrigo Vaz Pereira, para que a tradição da fanfarra fosse mantida, eu assumi o comando da equipe, sempre seguindo todos os ensinamentos adquiridos através do maestro Nilsinho. Após a fanfarra se apresentar em 7 de setembro de 2019, eu e a equipe Fama fizemos uma linda homenagem no pátio da escola para Nilsinho, em agradecimento por todos os anos de amor e dedicação”, contou Robson.
Ele ainda contou que, após um período, Nilsinho veio a óbito, e logo após veio a pandemia, no qual a fanfarra passou dois anos sem se apresentar.
Em 2022, após o retorno das aulas presenciais, Rodrigo e Carla Reis, servidora da escola há muitos anos, decidiram que a fanfarra iria se apresentar no “7 de setembro”.
“Eles me comunicaram e tiveram todo meu apoio. Mas Rodrigo, após um problema de saúde, precisou se afastar e ao ser hospitalizado, deixou claro que gostaria que a fanfarra se apresentasse mesmo ele estando impossibilitado de participar. Após a triste notícia do falecimento do diretor Rodrigo, a fanfarra prestou sua última homenagem a ele, em agradecimento por tantos anos de dedicação a família Monsenhor, a comunidade e ao carinho especial que tinha com a equipe da fanfarra”, disse Robson.
E para cumprir o desejo de Rodrigo, Robson e Carla, juntamente com os vices diretores da Escola Monsenhor Alfredo Dohr, vão estar realizando a apresentação!
“Nesta quarta, dia 7 de setembro, a Fanfarra Fama estará se apresentando lindamente sob nosso comando”, declarou Robson.
Coisa de mãe e filha
Thais Serapião também iniciou na fanfarra quando ela ainda estava no início – na época, Thais tinha 10 anos. Ao Sou+ e JC, ela descreveu a Fama como um sonho.
“Entrei nesse sonho que era a fanfarra, e vi ela crescer. Eu acompanhei todo aquele início onde a gente se encontrava na quadra da escola; cada círculo espalhado pela quadra era um grupo onde tinha os instrumentos e a cada cantinho, [as pessoas com] os instrumentos estavam em treinamento”, falou Thais.
Ela ainda disse que começou nos “pratos”, então em seu círculo, todos estavam aprendendo. “Aquilo pra mim era a coisa mais linda! Eu tinha apenas 10 anos de idade e estava participando de uma ‘banda’ que era algo que a gente não via mais na cidade. Então, eu participei de desfiles que haviam aqui em Lagoa da Prata, participei fora da cidade, recebíamos convites. Era aquele entusiasmo e empolgação”, declarou.
Thais, que se afastou por alguns anos da fanfarra, agora está de volta para erguê-la junto com Robinho, Carla e sua filha, que agora faz parte da Fama.
“Ela [a fanfarra] está passando de geração para geração. A minha filha faz parte das ‘portas-bandeiras’ e eu atualmente faço parte da ‘caixa clara’, que é um instrumento que comecei quando tinha cinco anos de fanfarra, é minha paixão”, declarou.
Orgulhosa, Thais destacou que a fanfarra significa muito para ela, afinal, faz parte desde o surgimento. “Lembro o tanto que o início não foi fácil, o tanto que a dona Ângela e Natinho lutaram para conseguirem as doações de instrumentos; eu acompanhei isso tudo. Para comprar os uniformes a gente vendeu rifas, fazia bingo, então significa muito para mim ver a fanfarra crescer, reerguer e ser a Fama que que era antes”.
A Fama é feita por pessoas que fazem parte da escola
Ana Ruth, nasceu e cresceu no Bairro Chico Miranda e estudou na Escola Monsenhor durante toda sua vida. Hoje, ela atua como professora de História por lá.
“Consegui estar de volta na escola como professora e tenho um carinho muito grande pela escola, que sempre abraçou muito a comunidade, de uma forma geral, e a fanfarra é um exemplo maravilhoso de levar o ‘além da escola’ para fora dos muros e da sala de aula. Então é uma outra forma de fazer com que, não só alunos, mas a comunidade, participem”, disse Ana Ruth ao Sou+Lagoa e Jornal Cidade.
Quando começou na fanfarra, Ana Ruth era “baliza” e falou que se lembra com muito carinho da “época de ouro” da Fama, onde a fanfarra se apresentava na região, em aniversários de cidades e festividades diversas.
“Espero que essa grandiosidade da fanfarra volte a ser como era antes, e não fique só presa no desfile de ‘7 de setembro’. Espero que tenha uma visibilidade maior, não só dentro de Lagoa da Prata; que a cidade e região saibam que temos um patrimônio cultural que é a fanfarra, que é muito especial para quem participa, para quem faz parte desde o início e quem está entrando agora”, declarou.
Ana Ruth relembrou de quando era “baliza”, e contou que desfilava de botas. “Já escorreguei demais na hora de fazer acrobacias. Hoje, melhorou muita coisa. Desfilávamos e desfilamos hoje, sem ganhar uma remuneração. Na região, quando íamos desfilar, ganhávamos um lanche, um almoço e fazíamos isso com um sorriso no rosto; quem está ali faz saber que não é fácil e faz porque ama”.
Agora, Ana Ruth voltou como professora e como “porta-bandeira” da Fama, e segundo ela, está sendo bem interessante ver a mudança de gerações.
“Estou como professora e já fui com aluna. Tem pessoas que estão desde o início e seus filhos, sobrinhos, primos, tia participam e é muito bacana isso, agregar todo mundo dentro de uma atividade. ‘O Monsenhor’ tem essa peculiaridade, tem o apego do bairro, da comunidade, é muito além de uma escola”, finalizou.