(Foto: Di-Gianne Nunes/ Arquivo Pessoal)
Professor de Lagoa cria projeto escolar e desmistifica “heróis do tráfico”
Reportagem: Bárbara Félix
Para desmistificar a admiração pelos heróis do narcotráfico e traficantes midiáticos, nasceu na Escola Estadual Monsenhor Alfredo Dohr, um projeto educacional ousado, o Olhando (Pro)Fundo, idealizado pelo professor Di-Gianne Nunes, vencedor do prêmio Educador Nota 10 em 2017.
Com a vida de personagens bastante em evidência a partir de séries e documentários, uma certa admiração por parte de alguns jovens foi desenvolvida, e devido à esta alienação, eles enxergar apenas a parte da coragem e da ousadia dessas pessoas. Porém a vida dos traficantes hollywoodianos não é tão cheia de poder e esperteza como quando se vê nas plataformas.
Em conversa com a redação do Sou Mais Lagoa, Di-Gianne contou sobre o surgimento do projeto e sobre o objetivo, que é mostrar o outro lado, a ótica da angústia, do sofrimento e da derrota.
“Sempre trago a História mostrando o efeito no presente. Quando se trata da questão do poder em períodos históricos, é normal surgir comparações com poder paralelo. E nessas aulas a respeito dos poderosos na época República Velha, coronéis, cangaceiros, houve em nossos debates algumas comparações em relação aos traficantes hollywoodianos, porque existem alunos que admiram muito a figura de narcotraficantes de séries de TV. Eles enxergam essas pessoas com admiração, no entanto essa vida de glória é muito desbotada”, disse o professor.
Segundo o idealizador, ao observar que os alunos enxergavam o universo do narcotráfico estampado em notícias sensacionalistas, filmes e séries, recheado com certo glamour, resolveu propor que eles fizessem pesquisas aprofundadas a respeito, assim começou o projeto.
Di-Gianne contou que a partir dessas pesquisas sobre estas ‘personalidades’, os alunos encontraram bastante conteúdo e demonstraram surpresos quando depararam com frases do filho de Pablo Escobar, mostrando o terror que foi a vida da família.
“Uma das alunas, Emilly Vitória, levou para sala uma frase impactante e os alunos fizeram cartazes com a citação que é: ‘O maior legado que meu pai nos deixou, foi o caminho que não devemos seguir’, tal frase encontra-se no livro ‘O Que Meu Pai Não Me Contou’ de Juan Pablo Escobar, filho do famoso traficante do Cartel de Medelín. Ele relata que a tranquilidade e felicidade demonstrada nas séries, não acontecia realmente”, disse Di-Gianne.
A partir das buscas intensas pelo assunto, o professor destacou os estudantes foram levando para sala de aula mais novidades a cada dia, como história de pessoas envolvidas com o tráfico no passado e hoje recuperadas, por exemplo, a história de um dos barbeiros mais conhecidos no Rio de Janeiro hoje, o youtuber Ariel Franco.
“Relatos capturados pelos alunos mostram que um dos traficantes passou fome dentro da própria casa rodeados de muito dinheiro, mas não podiam usufruir, sair em busca de alimentos por estarem cercados ou investigados. Coisas assim foram bem comuns nas reflexões dos estudantes. Eles perceberam que a vida tanto dos narcotraficantes quanto dos pequenos são recheadas de similaridades”, ressaltou o professor.
Não é só um projeto escolar, é um ensinamento para a vida
Ao final do projeto os alunos receberam a visita de um cidadão muito conhecido na cidade pela virada que ele deu na vida, o Toninho Laje.
Conforme Di-Gianne foi a primeira vez que Toninho foi em uma escola responder pergunta dos alunos sobre o período envolvido com o crime, a prisão na frente da mãe, os anos de cumprimento de pena e a volta por cima retomando o rumo da vida como funcionário no ramo de lajes pré fabricadas e hoje proprietário do seu próprio negócio.
“Toninho, ex traficante desde 2003 deu uma mega aula de vida para os meninos. Uma história de recuperação e superação e distância das drogas e do crime há 17 anos. Nesse momento os alunos puderam conhecer de perto tudo que eles buscaram em pesquisas, leitura, entrevistas e em matérias menos recheadas de ficção”, ressaltou.
Em consequência do projeto Olhando (Pro)Fundo, a ótica de glamour e a admiração pelo o universo do narcotráfico foi quebrada. Os alunos passaram a enxergar direito, fazendo florescer diversas conclusões num sentido muito mais próximo da realidade do que a mensagem exposta nos filmes, séries de TV ou no cordão de ouro dependurado no braço de fora do carro com prazo de felicidade vencida ou na angústia de saber que essa validade vai vencer a qualquer hora.
Declaração dos alunos
Em vídeo, os estudantes participantes do projeto deram suas declarações sobre o Olhando (Pro)Fundo. Confira: