Festa Circus, um dos maiores eventos em Lagoa da Prata. (Foto: @curol)
Produtores e músicos falam sobre “a pausa” nos eventos devido à pandemia
A cidade de Lagoa da Prata, que foi palco de muitos eventos que reuniram pessoas de toda a região Centro-Oeste MG, está em silêncio sem as festas. Afinal, há pouco mais de um ano, produtores e músicos tiveram que dar “uma pausa” devido à pandemia da covid-19.
Assim, a redação do Sou+Lagoa conversou com os produtores de eventos Antônio Claudio, o Tatau, e Rafael Figueiredo, e bateu um papo com os músicos Thiago e Diego, e Olavo e Igor do duo Efinito, que falaram sobre as dificuldades nesse período.
Tatau começou na área de eventos e cultura, promovendo carnavais de salão e de rua na década de 90 e esteve à frente de casas noturnas e inúmeros eventos em Lagoa. Alguns como o Festival do Peixe, Lagôpirô, o Tropicália e Espaço Bora, além de parcerias, como na festa eletrônica Circus, o Réveillon Umuarama Clube e Expô Lagoa.
Ao Sou+Lagoa, Tatau contou que em 2020 tinha vários projetos em andamento, mas foram todos cancelados. “Na Expô Lagoa, por exemplo, chegamos a ter algumas semanas de vendas e logo em seguida tivemos que ressarcir todos os clientes. Havia uma esperança da volta à normalidade no final do ano passado, assim lançamos alguns eventos, porém isso não ocorreu e novamente tivemos que adiá-los”, falou.
O produtor ainda disse que o processo de lançar uma festa e depois ter que cancelar gera muitos prejuízos, a começar pelo pagamento de parte de cachê de alguns artistas. “A criação de um evento é bem complexa, demanda planejamento e tempo de produção envolvendo vários profissionais, o prejuízo é enorme! O mundo parou, prejudicando a todos, porém, nosso seguimento foi o mais afetado e o pior, seremos os últimos a voltar à normalidade”.
Tatau também falou que hoje, há uma consciência do segmento de que neste momento, devem ficar parados. “Infelizmente, entretenimento [que os eventos e festas oferecem] é algo inconcebível até que passe a pandemia. É lamentável saber que nosso setor que representa 4% do PIB brasileiro, além de gerar milhões de empregos diretos e indiretos, até então não recebeu uma atenção devida. Infelizmente, acompanho de perto o desespero de muitos amigos do setor como músicos, empresários e produtores, dentre tantos outros em situação lastimável, pois todos estão muito tempo parados e ainda não há uma perspectiva para voltar”, declarou Tatau.
Ele também falou sobre um auxílio para o setor de eventos e a respeito da Lei Aldir Blanc, que beneficiou em torno de 50 artistas de Lagoa da Prata no ano passado. “Nem todos tiveram acesso à benefícios e estamos há mais de um ano parados, imaginem a situação de quem vive da arte, eventos e festas. Hoje, há propostas e devem ser aprovadas linhas de crédito específicas para as empresas de entretenimento e também a Lei Aldir Blanc deverá ser reeditada. Esperamos e torcemos para que tudo isso dê certo e principalmente que as vacinas cheguem rápido pois precisamos trabalhar”, declarou.
Outro produtor de festas que bombaram em Lagoa da Prata, é Rafael Figueiredo do grupo All Black, que falou à redação que no início da pandemia, acreditava que essa parada nos eventos seria por um curto espaço de tempo e ainda comentou sobre as dificuldades que o setor está enfrentando.
“Sabemos que a pandemia impactou todos os setores de forma negativa, porém nós em específico, estamos impedidos de faturar há 14 meses”, disse Rafael que ainda mencionou a questão emocional. “Tem sido um período muito difícil, temos nossas responsabilidades que precisam ser cumpridas, temos família e há diversas pessoas que dependem do funcionamento das empresas que estão paradas”.
O produtor ainda pontuou um fator importante neste período de pausa nos eventos. Segundo Rafael, outra grande dificuldade que estão enfrentando são as festas clandestinas que estão ocorrendo na cidade.
“As festas não param nenhum fim de semana sequer em todo o país e em nossa cidade não é diferente. Nós que somos do meio, sabemos a quantidade de eventos clandestinos sendo realizados todos os fins de semana, inclusive com público maior do que as principais casas de entretenimento da cidade comportam. Estamos sofrendo as consequências inclusive da ilegalidade”, falou.
Sem eventos, sem palco e sem música
A paralisação nos eventos também prejudicou os músicos da cidade, que tiveram até contratos de shows suspensos, como foi o caso de Thiago e Diego, que formam uma dupla sertaneja.
Os cantores nunca pensaram que ficariam tanto tempo fora dos palcos. “Para nós do meio artístico, está sendo um pesadelo! O setor foi o primeiro a parar e com certeza será também o último a retomar as atividades, e a gente sente falta de estar no meio do povo, e isso tem sido um obstáculo muito grande”, disseram.
A dupla ainda ressaltou que para quando tudo voltar ao normal, há vários projetos para colocar em prática. “A gente quer gravar o nosso primeiro DVD acústico, que era o projeto principal que tínhamos antes da pandemia, e vários outros projetos internos para melhoria da nossa equipe, mas enquanto isso, é esperar e pedir a Deus que tudo possa se resolver o mais rápido possível”.
Os Caixetas, Olavo e Igor do duo Efinito também falaram com a redação do Sou+Lagoa. Os meninos que rodaram o Brasil e o mundo realizando turnês, tiveram que parar devido à pandemia. Ao Sou+, eles falaram sobre os prejuízos e adaptações.
“Tivemos praticamente todos os planos interrompidos e o maior prejuízo financeiro foi a perda da nossa fonte de renda, que vinha exclusivamente das apresentações e turnês. Mesmo dentro do setor artístico, existe uma diferença gigante em como cada um foi afetado”, declararam. Os meninos ainda fizeram uma comparação entre grandes artistas e os pequenos, que tiveram que abrir mão de sua arte.
“Artistas grandes têm despesas grandes, porém acreditamos que dispunham de uma reserva maior e continuam tendo alguma receita, seja com royalties, lives e patrocinadores. Com isso, puderam continuar gerando conteúdo e tem um conforto financeiro e emocional maior para continuar produzindo arte. Nós, meros mortais, tivemos que nos adaptar, seja procurando um novo trabalho, cortando investimento e gastos para conseguir sobreviver, muitos artistas tiveram que abrir mão da sua arte, e é isso, a luta passou a ser pela sobrevivência”, ressaltaram.
Por fim, Olavo e Igor apertaram o botão da sinceridade e contaram que neste momento, é difícil fazer planos, mas destacaram que existe esperança de que as pessoas possam ser vacinadas para que possam retomar com segurança. “Ao longo desse tempo, continuamos fazendo música, que é o que a gente ama fazer. Queremos rever as pessoas felizes, dançando e curtindo nas nossas apresentações, isso é o que nos motiva a continuar trabalhando, dentro das nossas limitações. Nós vamos vencer”, finalizaram.