Diário de movimentos do mundo | Perceber que a vida é o clichê
É bom se atentar pro título dessa crônica e perceber a colocação do artigo definido – se existe clichê, estamos dentro dele.
Duvido encontrar alguém que nunca tenha ouvido frases prontas como “quem vê cara, não vê coração”; “O mundo dá voltas”; “A beleza está nos olhos de quem vê” etc. São o tipo de fala que, apesar de despertarem preguiça e sensação de monotonia na maioria das pessoas, descrevem realidades que muitas vezes passam despercebidas por nossos olhos.
Aliás, perder algo de vista não costuma me acontecer. Sou sempre bem atenta aos detalhes, sons, pessoas, cores, ordenação…
Naquele dia, porém, eu não podia devotar mais do que algumas olhadelas a você. não pude olhar dentro dos teus olhos, cujas cores ainda pretendo desmistificar; Nem ao menos trocar palavras comuns sobre o lugar, o tempo e a música que faz a vida ser assim, do jeitinho que ela é.
Por alguma razão, não pude muita coisa – dentre elas, te esquecer como deveria. o que era pra ser casual e passageiro tornou-se espectador cativo para as encenações do meu pensamento. Bastou o teu sorriso e alguns poucos segundos pra que eu precisasse te conhecer. Ainda preciso.
Não me fazem falta as tuas cores na memória, ou o perfume, ou o gosto, ou aquelas tantas partes de ti que ainda não descobri. Só sei que o mundo deu voltas pra que pudéssemos nos encontrar na garoa e na insensatez; que teu rosto não me importa, mas teu coração sim; que o pouco guardado nos meus olhos é o suficiente para dizer-te bem.
Desde que cruzaste meu sábado, não tenho direção nem caminho para fugir da ilusão que é a possibilidade de um dia te pertencer.