“O grafite lá na Praia representa meu povo! O povo preto e sofrido”, diz artista lagopratense

(Foto: Bárbara Félix/Sou+Lagoa)

“O grafite lá na Praia representa meu povo! O povo preto e sofrido”, diz artista lagopratense

Bárbara Félix

@barbara.fx


Como forma de representar o povo preto, sofrido e periférico, o lagopratense Silas Cândido grafitou a imagem de uma mulher preta em um muro próximo a Praia Municipal em Lagoa da Prata – a obra foi iniciada no começo de novembro mas foi na segunda-feira (16) que a arte no muro chamou atenção. 

(Foto: Silas Cândido/Arquivo pessoal)

Nesta quarta-feira (18), a redação do Sou+Lagoa conversou com o Silas e também esteve no local onde a arte foi feita. Nas palavras do artista, “aquele grafite (ou graffiti na linguagem dos grafiteiros)  lá na Praia representa o meu povo! O povo preto e sofrido. Hoje eu uso o grafite para estar representando nas questões raciais e conscientizar as pessoas que vão ver a arte na parede”, contou o artista que ainda explicou sobre o contexto de todas as obras que faz. 

“O contexto dos meus grafites é a representatividade do povo preto, especificamente as mulheres, que são nossas guardiãs. A figura feminina é muito importante na vida do ser humano e a mulher preta ainda mais, pois é guerreira e afirmo isso tendo como referência minha mãe e minha avó Cida, minha rainha, que foi para mim uma das grandes incentivadoras para virar um artista porque quando eu era criança pintava pano de prato com ela e esse primeiro contato com arte tive”, falou Silas. 

O grafiteiro também disse que para realizar a obra na Praia pediu autorização na Secretaria de Cultura para ocupar o espaço e foi atendido. Porém, apesar de estar dentro da legalidade, o artista contou que no dia em que estava grafitando a arte na Praia, foi abordado pela Guarda Civil Municipal, que alegou ter recebido uma denúncia anônima sobre um cidadão pichando o muro da Praia. “Com a abordagem, apresentei o ofício e a própria GCM falou que o pessoal da cidade não está preparado para receber esse tipo de arte. Mas é por isso que faço esse trabalho, para quebrar esse preconceito e educar a galera das áreas centrais! Ao fazer um grafite em bairros periféricos, temos uma outra  recepção, o pessoal nos recebe muito bem e chama até para almoçar e pede para fazer grafite no muro dele também. Essa é a diferença das pessoas que recebem a arte”, declarou Silas. 

A arte para o criador

Vindo da pichação, o grafiteiro Silas está há 10 anos na área e afirmou que o grafite, picho e outros tipos de arte de rua são para reivindicar algo, levantar bandeiras e defender causas.

“O grafite para mim é uma ferramenta de inclusão. Ao fazer um painel em uma área periférica onde as pessoas não tem contato com arte, cultura, a gente percebe o quanto aquilo toca e mexe com o pessoal e ambiente em si, esteticamente falando. O grafite educa e conscientiza o povo, e para o artista é uma forma de se expressar, uma válvula de escape, é dar voz e mostrar que existe um preto artista que sabe fazer um trabalho bem feito.  Ainda sobre inclusão, no grafite somos uma mistura! Não fazemos separação de preto, índio ou gay, somos todos uma família unida e tentamos passar isso fora do movimento para quem não é do grafite”, salientou Silas. 

(Foto: Bárbara Félix/Sou+Lagoa)

+intervenções

Silas Cândido de Lagoa da Prata faz parte do coletivo 037 NPN – Nós por Nós, que é composto por artistas de Pará de Minas, Itaúna e Nova Serrana e tem o intuito de levar o grafite para o Centro-Oeste MG com a ideia de mostrar que no interior também tem artistas talentosos. 

Sobre ocupar mais espaços em Lagoa em intervenções artísticas, Silas pontuou dizendo que a cidade realmente carece de arte não somente nos muros mas também nas escolas e projetos sociais. 

Esperançoso, o grafiteiro finalizou dizendo que espera que em 2021 o cenário cultural em Lagoa da Prata mude. “A cidade carece muito e com o apoio de pessoas cultas, conseguiremos reverter este cenário”. 

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Redação