“Mulheres no topo puxam outras mulheres para a mesma posição”, diz cientista lagopratense

(Foto: Fernadna Farnese/Arquivo Pessoal)

“Mulheres no topo puxam outras mulheres para a mesma posição”, diz cientista lagopratense

O corpo feminino foi relacionado à incapacidade física, intelectual e cognitiva por muito tempo. Por isso, conquistar espaços no meio acadêmico e profissional é um ato de resistência, principalmente em ambientes dominados por homens, como na área da ciência, e ainda mais nas exatas. 

Em 2015, por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), o dia 11 de fevereiro foi decretado como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), ainda em 2015, somente 28% dos pesquisadores do mundo eram mulheres. A jornada dupla e a dificuldade em equilibrar vida profissional e acadêmica com a vida pessoal, é muito mais forte para as mulheres. Por isso, elas são menos cotadas em viagens e deslocamentos para trabalhar em suas pesquisas. 

Para celebrar a data, o Sou+Lagoa conversou com Fernanda dos Santos Farnese, cientista e pesquisadora de Lagoa da Prata. Fernanda é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pós-doutorado na área de Hidráulica de Plantas no Institut National de la Recherche Agronomique (Inra – França) Implantou e coordena o Laboratório de Estudos Aplicados em Fisiologia Vegetal do IF Goiano, Campus Rio Verde, desde 2016.

Com um currículo excepcional e diversos artigos publicados em revistas nacionais e internacionais, Fernanda recebeu em 2020, o prêmio Para Mulheres na Ciência, uma iniciativa da L’oréal Brasil. Em 2021, recebeu o prêmio TWAS- LACREP Young Scientists Award 2021, da Academia Mundial de Ciências. O prêmio dado pela Academia Mundial de Ciências a jovens cientistas de países em desenvolvimento que trouxeram grandes contribuições ao avanço da ciência. 

Em meio a tantas experiências, algumas dificuldades surgiram, a maioria delas devido à opressão masculina no meio científico.

“Como mulher, enfrentamos desafios adicionais. Durante muitos anos as mulheres foram proibidas até mesmo de ter um diploma. Hoje em dia, isso não existe mais, mas a pesquisa científica continua sendo um campo essencialmente masculino. O número de mulheres na ciência diminui à medida que se avança na carreira científica. Estudos recentes demonstraram que as mulheres ainda são minoria em cargos de liderança, as mulheres recebem menos convites para participar de redes de pesquisa e as mulheres recebem menos investimento para suas pesquisas científicas”, comentou Fernanda. 

Segundo pesquisa feita na USP analisando dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as mulheres representam menos de 5% do total de pesquisadores nas ciências exatas. São 13 bolsas para mulheres, enquanto 269 homens têm seus pedidos aceitos.

No meio profissional não é diferente. De acordo com a Unesco, as mulheres representam apenas 28% dos pesquisadores em todo o mundo. Um estudo da Fundação Nacional da Ciência (NSF), dos Estados Unidos, realizado entre 50 mil cientistas, apontou que o salário anual das mulheres era 20% menor. Além da questão salarial, existe o aspecto social na diferença de tratamento dentro das indústrias e centros de pesquisa.

Fernanda Farnese em apresentação de pesquisa
(Foto: Fernanda Farnese/Arquivo Pessoal)

“Eu recebi tratamento diferente algumas vezes e isso fez com que eu me sentisse diferente algumas vezes. Fez com que eu cogitasse que eu poderia estar fazendo algo errado. Mulheres são menos convidadas para parcerias de pesquisa, recebem menos financiamento e têm seu trabalho menos divulgado em comparação com homens. Estudos recentes demonstraram que as mulheres são sub-representadas na maioria das áreas científicas, mulheres recebem menos financiamento para suas pesquisas e currículos femininos são avaliados mais criticamente por seus pares – mesmo quando são idênticos a currículos masculinos. Todos esses fatores resultam em poucos modelos femininos de sucesso na ciência o que, por sua vez, dificulta a entrada de novas meninas nessa carreira. Mulheres no topo puxam outras mulheres para a mesma posição”, declarou. 

No entanto, o número de mulheres ingressando em carreiras científicas é crescente. Para aquelas que sonham em seguir esses caminhos, Fernanda aconselha.  “Confie em você! Escolha pessoas que irão apoiar a sua caminhada e esteja preparada para alguns desafios adicionais, mas saiba que eles não te definem. Lembre-se sempre que lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive dentro do laboratório, fazendo pesquisa!”

Fernanda é uma entre milhares de meninas e mulheres na ciência. O Sou+Lagoa parabeniza a todas elas e reforça a importância do seu papel na pesquisa nacional e mundial.

Ana Isa