(Foto: Robson Júnior/Arquivo Pessoal)
Mascates compartilham dia a dia da profissão nas redes sociais; conheça suas histórias
A forma de venda conhecida como “rifa” em Lagoa da Prata é, desde o princípio, uma das principais engrenagens da economia na cidade. Atualmente, após algumas mudanças na maneira de vender e no que é comercializado, os vendedores compartilham seu dia a dia em páginas nas redes sociais e pedem por mais reconhecimento.
Para entender mais sobre a rotina de trabalho e as mudanças que aconteceram ao longo do tempo, o Sou+Lagoa conversou com Robson Júnior, rifeiro e administrador da página Maskates LP (@maskate___lp), no Instagram, onde mostra o dia a dia da profissão. Robson comentou sobre a subdivisão nas vendas e como eram feitas antigamente; e com Hilton de Farias, que está no ramo há 16 anos.
“O meio de vendas de Lagoa tem dois ramos, né? Começou com as cartelinhas; os vendedores vendiam anel, tinha raspadinha, tinha muita coisa. Nessa época, todo mundo chamava a [cartelinha de] rifa, né? Aí dava brinde, aqueles ursos da Panda… aí foi tudo mudando e começou o estilo que tá nas viagens de agora”, explicou Robson.
Atualmente, as vendas por cartelinha não acontecem mais. Os principais produtos comercializados são itens de uso doméstico, como roupas de cama e utensílios de cozinha. Robson também falou sobre essa mudança e os tipos de comercialização em cada ramo.
“Muita gente ainda fala “a rifa” mas não está mais nomeado como a rifa de antigamente, agora está conhecido como vendas de enxovais; cama, mesa e banho, que é a viagem de pano, e tem a viagem de kit. Viagem de kit são os vendedores que trabalham do mesmo jeito, mas eles vendem batom, vendem maquiagem, essas coisas. A rifa foi só o título que ficou”, explicou ele.
Sobre a diferenciação entre os termos “rifeiro” e “mascate”, Hilton esclareceu:
“Na verdade, rifeiro é o nome que ficou aqui na cidade né, mascate é o nome dado a vendedor ambulante na maioria das regiões do país. Mas como aqui começou com a rifa, aí pegou o nome de rifeiro; e todas as outras ramificações, como cartelinha, kit de brinco, batom, depois as roupas de cama, mantiveram o mesmo nome, porque aqui, rifeiro é quem viaja”, disse.
Apesar dos termos distintos, o trabalho se realiza da mesma forma, com muita honra e dedicação, de maneira que esses vendedores viajam por todo o país a trabalho.
“Onde você imaginar cidade no Brasil já passou um rifeiro, já passou um mascate, já passou um vendedor. Eu trabalho nesse ramo já tem seis anos, então eu sou da geração dos novos, mas como hoje em dia né, a internet virou moda, virou o ponto de visualizações, foi onde eu me inspirei a fazer o Instagram”, declarou Robson.
Robson mencionou que rifeiros de outras cidades seguiram o exemplo e também criaram páginas para compartilhar a rotina na profissão, como o Viva a Rifa e Rifeiros na Estrada.
“Com a repercussão que tá dando o “mascates”, o reconhecimento, a gente fica muito honrado. Nosso reconhecimento na cidade pode ser um exemplo, ter mais respeito, porque nossa profissão acaba sendo muito desrespeitada. A gente arrisca a vida aí, a gente tinha que ter mais valor”, finalizou ele.
O impacto na economia da cidade
Para entender o impacto geral da rifa na cidade como um todo, o Sou+Lagoa conversou com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Rogério Corgosinho. Entre as raízes da movimentação, ele destaca a formação de pequenas indústrias, como os galpões de confecção, que destinam sua produção aos vendedores.
“Lagoa da Prata é uma cidade conhecida na região e no país por suas muitas qualidades, sendo que uma delas é o seu dinamismo econômico. Além de suas diversas indústrias, o município possui um segmento bastante importante e que é específico daqui, que são seus vendedores “porta a porta”, isto é, os “rifeiros” que viajam por todo o Brasil. Essa atividade é responsável por movimentar toda uma cadeia produtividade na cidade, desde o consumo de matéria-prima, formação de pequenas indústrias, galpões logísticos e, claro, até a geração de diversos empregos”, falou o secretário.
“Essa é uma atividade econômica que faz de Lagoa da Prata uma cidade superavitária em termos de renda, ou seja, a atração de recursos financeiros para o município é muito superior ao que consumimos fora daqui. E os benefícios disso são multiplicados para os outros setores da economia local, a exemplo do comércio, da prestação de serviços, da construção civil e da agricultura que ficam mais potentes”.
Rogério apontou ainda alguns problemas enfrentados por esses trabalhadores, como a falta de formalização do emprego e, por conseguinte, a perda de direitos trabalhistas.
“O segmento dos rifeiros evoluiu muito nos últimos anos em relação a sua formalização, todavia, esse ainda é um gargalo que precisa de mais atenção. De qualquer forma, Lagoa da Prata é privilegiada por contar com empreendedores rifeiros, pois eles são responsáveis por uma grande parcela de geração de riqueza que a cidade produz. Sem eles, com certeza Lagoa da Prata estaria mais vulnerável em relação ao desemprego e a pobreza ou a qualquer crise”, finalizou.