(Foto: Banco de Imagens Canva)
Mães no mercado de trabalho; a discriminação causada pelo machismo estrutural
Ana Isa e João Alves
Não é incomum ver, diariamente, relatos de mulheres em situações constrangedoras vividas em entrevistas de emprego. A grande maioria desses constrangimentos vem relacionados a uma das maiores motivações dessas mulheres para trabalhar: seus filhos. E claro, esse não é um problema enfrentado por homens. No Brasil, 85% das mulheres vivenciam jornada dupla; a situação é ambígua, porque apesar do número alto e da necessidade trabalhar, a frequência dessa discriminação faz com que ele seja menor que o ideal.
O Sou+Lagoa, em colaboração com o Jornal Cidade, buscou entender como essa situação se encontra em Lagoa da Prata. Para isso, duas mães lagopratenses deram seus depoimentos e contaram suas experiências, infelizmente mas não surpreendentemente, negativas.
Rayssa Moretto tem 18 anos e é mãe do Lucca, de quatro anos de idade. Ela relatou que além das perguntas enfrentadas por ter um filho, o julgamento é ainda maior pela idade.
“Algumas empresas não dão oportunidade para mulheres que são mães, principalmente as que engravidaram cedo. Já fiz não sei quantas entrevistas e sempre a mesma coisa, [na] maioria delas eu tenho experiência no que pedem e quando falo que tenho filho vejo perguntas pessoais e por aí vai”, contou.
A escolha entre ser mãe e ter uma carreira não deveria ser colocada em questão. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres representam mais de 54,5% da população econômica do país.
“O fim da picada pra mim foi eu ter feito entrevista com três pessoas, ser a única que tem experiência de um ano na área não ser chamada para a segunda etapa. Uma amiga que fez a entrevista comigo falou que não entendeu o porque não fui chamada porque a vaga se encaixa 100% pra mim”, disse.
Rayssa ainda falou sobre o constrangimento em entrevistas coletivas, por sempre ser alvo de perguntas pessoais que não são feitas aos outros candidatos. “Chega a ser humilhante pra mim. Sei que sou boa mas sempre perguntam a mesma coisa, ‘mas ele não vai te atrapalhar não? Tem com quem deixar ele?’”.
Nayara dos Santos, de 23 anos, mãe da Maria Alice , de 4 anos, também relatou passar pela mesma situação de constrangimento. Ela, que hoje trabalha no mercado informal como babá, já que a profissão lhe permite levar a filha para o local de trabalho, relatou que em sua penúltima entrevista de emprego, perguntaram com quem ficaria a sua filha caso ela adoecesse. Além disso, ela foi questionada se teria alguém para buscar Maria Alice na escola quando precisasse ficar até mais tarde trabalhando.
“Em outra empresa quando falei que tinha uma criança a entrevista acabou por ali mesmo e não obtive nem resposta”, comentou.
Mesmo quando conseguem driblar a resistência dos empregadores em contratar mulheres com filhos, nota-se que o mercado de trabalho tem pouca ou quase nenhuma sensibilidade com a realidade das mães que precisam se desdobrar para vencer a já mencionada jornada dupla.
Conta Nayara que após passar por uma entrevista de emprego, conseguiu o trabalho. Contudo, os horários que lhe foram passados eram diferentes daqueles combinados na seleção. “Eu afirmei que tinha [filha] e nessa empresa fui contratada. Fui e os horários combinados não eram os que passaram na entrevista. Peguei covid nesse trabalho e saí por medo pegar de novo e passar pra minha filha”, relatou.
O que fica claro é que o mercado ainda precisa ser humanizado para entender que a mulher pode sim ser mais que mãe. Aliás, ser mãe nunca deveria ser atestado para incompetência ou incapacidade. Já que quem desempenha a função sabe muito bem que o que menos uma mulher faz é ser só mãe, principalmente em casa.
Outro fator que precisa ser considerado é a necessidade de levar informações a essas mulheres. Muitas mães, por exemplo, não sabem, que certas perguntas podem até mesmo infringir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que protege as informações dos funcionários nas empresas, e caso seja desrespeitada pode gerar multas de até 2% do seu faturamento, segundo matéria do Jornal Jurid.
Por falta de visão, as empresas perdem grandes profissionais, pois a mulher que é mãe desenvolve inúmeras habilidades além de requisitos profissionais. A mulher mãe se torna mais humana, aprende o poder da comunicação e resiliência, não desiste de objetivos propostos e busca desempenhar suas funções com mais clareza e segurança, pois tem quem a espera em casa e precisa ser exemplo.