(Foto: Pingo de Ouro/Divulgação)
Cultura afro-brasileira, nossa arte! A importância e necessidade de falar sobre
Bárbara Félix
Cultura afro-brasileira, nossa arte! Neste mês de novembro onde é celebrado o mês da Consciência Negra, o Sou+Lagoa apresentou mais uma reportagem especial para falar sobre a necessidade da cultura afro-brasileira em Lagoa da Prata.
Para aqueles que não sabem (muitos), a manifestação cultural afro-brasileira existe e persiste no município através do grupo de capoeira angola Pingo de Ouro, de Renato Lima ou mestre Renato Angoleiro como é chamado no meio artístico – o mestre foi responsável pelo primeiro festival de arte negra de Itapecerica e já teve o trabalho homenageado com a Comenda “Zumbi dos Palmares, Consciência Negra 2018”, pela Câmara Municipal de Divinópolis.
Em Lagoa da Prata desde 2007, Renato ofertou oficinas em aulas de Arte em escolas da cidade, mas foi por um período curto que, inicialmente expôs mais sobre a cultura de matriz africana. Teve que se mudar da Lagoa, mas retornou em 2018 com as atividades no município.
Colocando na linha do tempo a história do projeto, Renato contou para redação em uma entrevista realizada na Praia Municipal, que Pingo de Ouro surgiu no ano de 2003 em Belo Horizonte, sua terra de origem. “Através da Capoeira Angola, pude conhecer várias pessoas e tive oportunidade de começar a dar aulas. Fui chamado para dar oficinas em projetos sociais e escolas e com isso a gente vai pegando experiência. Em 2003 fundamos o Pingo de Ouro e a partir disso expandimos o trabalho”, disse Renato.
Sobre o que a Capoeira Angola, o mestre deu uma aula a respeito da manifestação cultural e artística afro-brasileira, que conforme ele, é uma modalidade voltada para a preservação de um legado de força deixado pelos escravos.
“Capoeira Angola é uma vertente de uma cultura de matriz africana, por isso quando falamos que é afro-brasileira porque tem um caráter duplo. Ela é gerada pelos africanos mas nasce aqui no Brasil no período de escravidão, nos cativeiros e senzalas”, afirma o mestre de capoeira que completou falando que a Capoeira Angola era a única defesa que o negro tinha dentro das tribos quando vieram para o Brasil. “Era uma forma de se defenderem da opressão da escravidão. Então eles começam a praticar o ‘N’Golo’, pois é chamado assim na África e lá essa manifestação era como um ritual para acasalamento, como um noivado, onde os interessados entravam em um duelo, e na batalha tinham os movimentos que hoje usamos na capoeira, sendo estes o ‘macaquinho’, a ‘cabeçada’. Era algo bem primitivo, mas o negro que vencesse, ele se casava com a moça. Vindo para o Brasil, esses negros que lutavam lá, aqui começaram a praticar o ‘N’Golo’, no mato ralo pois pensavam que se tinham forças para lutar entre si, poderiam usar essa arte como uma arma para lutar pela liberdade”, explicou Renato.
De acordo com o mestre da Pingo de Ouro, a nomenclatura Capoeira surgiu no Brasil quando escravos decidiram usar a modalidade para se defenderem dos feitores. “Logo os negros começaram a se rebelar contra a opressão daqueles que os estavam escravizando. Quando eram repreendidos e agredidos, eles começavam a fazer os movimentos, como ‘rabo de arraia’, a ‘cabeçada e conseguiam derrubar os feitores do cavalo e fugiam graças à Capoeira e assim surge a nomenclatura Capoeira Angola”, contou.
A capoeira liberta
Como forma de libertação, a capoeira foi o modo que os escravos encontraram para lutar e fugir das garras dos feitores, afinal a partir das fugas que começaram a surgir os quilombos.
Para mestre Renato, apesar do fim da escravidão no Brasil, os negros continuam em processo de libertação. “O negro se liberta na capoeira, e isso tem muito poder! Essas manifestações culturais e artísticas como a capoeira, hip-hop, rap, dança de rua são afro-brasileiras e não afro-americanas, digo isso porque todas estão ligados à África; a ligação maior de arte negra sempre nos remete a África que é mãe. E todas essas modalidades são armas e ferramentas para não nos calarmos perante às opressões e à desigualdade que grita em nossa sociedade! E é papel nosso tentar mudar a realidade, e podemos fazer isso com a arte. No meu caso, com a Capoeira Angola faço com que ela seja uma ferramenta de socialização, educação e oportunidade”, declarou.
Capoeira Angola em Lagoa da Prata
Ao voltar para Lagoa da Prata, Renato percebeu o potencial que a cidade tem, e abriu a sede do grupo de capoeira angola Pingo de Ouro, que funcionou muito bem por um tempo, mas devido à pandemia teve que fechar para evitarem aglomerações, mas disse que assim que puder as aulas vão voltar. As modalidades ofertadas são de movimentos da capoeira angola, percussão afro, musicalidade, história da capoeira angola, orquestra de berimbaus, confecção de instrumentos e palestras e a unidade da Pingo de Ouro ficava na Rua Paraíba, 1371.
Por fim, Renato pontuou falando que “ao inserir arte na comunidade, influenciamos para redução de problemas graves sociais, pois quando falamos de arte e cultura também falamos de educação”, finalizou.