Conheça a história das obras de artes que encantam os espaços públicos de Lagoa da Prata

Painel ‘Justiça’, no Fórum de Lagoa da Prata é a primeira pintura de Heleno Nunes na cidade. (Foto: Rafael Robatine)

Conheça a história das obras de artes que encantam os espaços públicos de Lagoa da Prata

Bárbara Félix 

Tela, pincel, tinta, lápis, papel e tantos outros instrumentos que nas mãos de artistas de Lagoa da Prata, transformam o ordinário em extraordinário, assim, adornando a cidade com diversas obras de arte.

São traços pintados e peças esculpidas que demonstram que na cidade a arte existe, embora poucas pessoas saibam a origem das mesmas e sobre os autores. Desta forma, trazendo à tona as histórias das peças artísticas, o Sou+Lagoa conversou com o veterano das artes, Heleno Nunes, que contou sobre seus diversos trabalhos espalhados em Lagoa da Prata, como a escultura da mulher canavieira na Praça de Eventos, o mural na Paróquia São Carlos e o painel no Fórum da cidade, que foi a primeira obra pintada do artista, desenvolvida em 1968.

Conforme Heleno, a execução deste trabalho foi à base de aventura e coragem, afinal, nunca havia feito pintura – sua “especialidade” era os desenhos a lápis que desde criança fazia.

Painel ‘Justiça’ por Heleno Nunes (Foto: Heleno Nunes)

“No mandato de prefeito do professor Pedro, como era conhecido, fui chamado para pintar um quadro no Fórum. O inusitado foi que eu só desenhava para quadrinhos do jornal que trabalhava em Belo Horizonte. Nunca havia pintado um quadro na vida, e mesmo assim, peguei a responsabilidade de fazer a tal pintura”, contou Heleno.

O artista falou ainda que não sabia nem qual material deveria usar, mas mesmo assim aceitou o trabalho. “Enquanto contava para minha mãe sobre o trabalho, já criava em mente, o que pintaria. Em seguida, comprei a cartolina, fiz o desenho e mostrei para professor Pedro, que aprovou”, disse.

Para finalmente começar o trabalho no prédio do poder judiciário, Heleno disse que não fazia ideia de quais tintas e pincéis usar. Ele ainda ressaltou que ao ir às compras, a vendedora o ajudou, explicando sobre o que usar. Assim, pôde começar a pintar o primeiro trabalho na cidade.

“Assim que fechavam o fórum, eu começava a pintar, e foi assim durante todo o processo. O painel é a obra que mais gosto, não pela dificuldade que tive, mas porque ele me encantou, e até hoje sou encantado por ele. É a minha primeira pintura, nem sabia o que era, como fazer. Foi um risco, mas tudo foi assim”, declarou.

Escultura na Praia

Outra obra de autoria de Heleno Nunes é a ‘Mulher Canavieira’, escultura na Praça de Eventos, próximo à Praia Municipal, que representa os trabalhadores.

Mulher Canavieira, obra de Heleno Nunes em fase de construção. (Foto: Heleno Nunes)

Em conversa com a redação, Heleno disse que assim como o painel ‘Justiça’ no fórum, não sabia como fazer uma estátua, e recebeu prazo de um mês para entregar o trabalho.

Conforme ele, um amigo e professor de arte com quem já havia trabalhado, disse à ele que levaria quatro meses para fazer a escultura, e que no prazo informado para Heleno, seria impossível concluir o trabalho. “Fiquei desiludido, mas então tive uma ideia para fazer o trabalho. Para fazer a escultura, usei uma armação de ferro, que hoje é muito usada, mas na época não, só assim consegui terminar”, contou.

Heleno também destacou que na data da inauguração que já estava definida pela Administração, a escultura foi entregue faltando uma das mãos, mas depois a obra foi totalmente concluída.

Quadro da Igreja

Pintado em 1994, o mural na Paróquia São Carlos Borromeu é a obra mais conhecida de Heleno Nunes em Lagoa da Prata, devido ao acesso da população na Igreja Matriz. A pintura também é a que mais causou repercussão, já que existem diversas interpretações da obra. Porém, o artista afirmou que após o trabalho ter sido finalizado, ele explicou aos fiéis durante a celebração da missa sobre o que eram os desenhos do mural, o que causou desconforto em alguns que estavam presentes.

(Foto: Rafael Robatine)

“Muita gente perguntava o porquê de um lado ser colorido e o outro sem cor, e eu explicava aquilo dizendo que muitas vezes as pessoas estavam ali, mas sem ânimo, a chamada depressão da multidão. A máscara representa as crenças religiosas, todas as igrejas, todas odiando uns aos outros, querendo ser ‘donos de Deus’”, comentou.

Painel na Paróquia São Carlos Borromeu. (Foto: Heleno Nunes)

No entanto, o ponto que chama mais atenção na obra, é uma pichação – a ‘assinatura de Cristo’.

Heleno contou que um rumor surgiu devido à assinatura, onde falaram que alguém entrou dentro da igreja e fez vandalismo, mas não foi bem assim. A assinatura foi feita pelo próprio artista.

De acordo com Heleno, a inspiração para fazer a assinatura veio após terem visto uma pichação do muro na Galeria Paris, onde estava escrito uma frase qualquer assinada por ‘demônio’. Inspirado, o artista conta que comprou um tubo de tinta spray, e finalizou a obra, dando à ela a assinatura de Cristo.

Arte em Lagoa não é de um artista só

Além das obras de Heleno, Lagoa da Prata também é presenteada por diversos outros artistas e que também causam muita curiosidade na população lagopratense. Uma delas é a ‘Árvore do Tio Bento Lobato’, obra de arte que fica no salão da rodoviária, feita da madeira de uma das árvores que foram plantadas em 1961, aos arredores do Museu do Fundador na pracinha próxima ao bar Tropicália.

A obra foi feita no período do prefeito Rui Amorim por artistas de Bambuí, no entanto, a Prefeitura de Lagoa da Prata não possui nenhum registro sobre os nomes dos autores da obra.

Porém, sabe-se que a obra foi feita com o auxilio de uma motosserra, pois foi preciso fazer a retirada de partes danificadas, devido ao apodrecimento e queimaduras no tronco, em razão de um raio que atingiu a árvore.

Obra está localizada na rodoviária de Lagoa da Prata. (Foto: Rafael Robatine/Divulgação).

Ainda na rodoviária, há um painel pintado por diversos artistas da cidade, através da iniciativa de Christian Freitas, que contou à redação do Sou+Lagoa, que a ideia de fazer a pintura veio de uma empolgação que sentiu após ter feito algumas aulas com Heleno Nunes.

Christian disse que na época, contou com o apoio do secretário de Cultura Cadu Escobar, e assim fizeram o painel que tem a participação de Letícia Faria, Wilsa Félix, Jaime Alves, José Wilson Bernardes e Angélica.

“O painel é a junção dos seis trabalhos pintados, um deles mostra a agricultura da cidade, representado pela usina e a pecuária, onde mostra a Embaré, além da Praia Municipal, a Igreja Matriz, a Praça Coronel Carlos Bernardes e o Rio São Francisco”, disse o idealizador da obra.

Painel na rodoviária. (Foto: Christian Freitas)

Christian declarou que o painel foi interessante de ser feito, mas que infelizmente, após a execução, sofreu com o descaso, até ficar embolorada por falta de manutenção.

Mais espaço para a arte, por favor!

Com tudo, embora a cidade tenha estas obras que representam a história de Lagoa da Prata, contadas através de artistas da casa, ainda há a carência gritante por mais apoio e incentivo às novas gerações de artistas locais, que não são poucos!

Em eventos culturais independentes, como Imergir, promovido pelo Coletivo Nexalgum, jovens artistas locais, tiveram a oportunidade de expor seus trabalhos pela primeira vez, assim, proporcionando à todas as gerações de lagopratenses, a chance de conhecer de perto, os trabalhos que realizam.

 

Redação