(Foto: Larissa Torres/Sou+Lagoa)
Com 85 mil seguidores na Twitch, lagopratense estourou na plataforma jogando ao vivo
A pandemia impactou a vida de todos ao redor de todo o mundo, em diversos aspectos. O isolamento motivou as pessoas a reinventarem as formas de entretenimento e até mesmo de trabalho. Um dos fenômenos foram as lives que aconteceram em diferentes plataformas com infinitos temas: música, bate papo, leitura e, claro, jogos. Em 2020, a Twitch – principal plataforma de streaming ao vivo – registrou mais de 30 milhões de visitantes diários e 1 trilhão de minutos assistidos.
Em Lagoa da Prata, o impacto não foi diferente. O Sou+Lagoa conversou com Samuel Vidal, que é jogador de CS:GO e como qualquer outro jovem, começou por hobby. No entanto, em 2020, viu uma oportunidade de transformar aquilo em algo mais.
Hoje, ele possui um estúdio em sua casa, onde joga e produz lives para a rede social.
“Eu jogava CS já há bastante tempo. Hoje, eu jogo CS há oito anos. Há três anos atrás eu comecei a fazer live, então quando eu comecei a fazer tinha cinco anos que eu jogava CS. Eu tentei ser jogador profissional, eu sabia que tinha como ganhar dinheiro jogando profissionalmente e tudo mais, mas eu nunca fiz pelo dinheiro, porque era algo que eu era bom; mas eu sempre quis ser jogador de futebol, na época. Aí eu machuquei a perna, não conseguia mais jogar bola e tudo mais, então como eu já jogava CS eu comecei a focar um pouco mais, porque eu vi pessoas do meu lado, pessoas que eu gostava, começando a ganhar a vida com isso e eu falei que eu queria tentar”, contou.
Como muitos jovens, ao final do ensino médio Samuel não tinha certeza da carreira que gostaria de seguir, e passou a notar seu talento para o jogo.
“Eu não me via fazendo nada com 18 anos ainda, não tinha muita coisa na minha cabeça que eu queria fazer. Eu acho que é uma pressão muito grande decidir o que quer fazer pro resto da vida com 18 anos, e eu só pensava em jogar o meu CS e tudo mais, e eu sabia que eu era muito bom no jogo, a ponto de conseguir tirar alguma coisa nem que fosse jogador profissional”, explicou o gamer.
“Quando eu comecei a fazer lives, eu tava tentando jogar num time profissional; eu tinha 17 anos de idade, e eu tinha alguns campeonatos para ir geralmente e minha mãe não deixava, porque era pegar viagem pra ir e tudo mais, avião… e eles não bancavam pra mais de uma pessoa, a não ser eu, pra ir nos campeonatos. Então acabou que eu não fui pra quase nenhum que eu joguei, eu joguei só on-line praticamente. E o time acabou, no fim de 2018, e eu não tinha pra onde ir, qual time jogar porque eu não era conhecido,né”, relatou.
Samuel contou que viu cada vez mais pessoas fazendo lives, então decidiu mostrar para o público que sabia jogar, e mostrando seu talento poderia ser visto e escalado por times profissionais.
“Com o passar do tempo, eu não tive muitas oportunidades de jogar profissionalmente de novo. E como eu disse que eu sei jogar, saiu uma coisa que eu era hacker, que eu usava alguns programas pra jogar bem, e começou a ‘colar’ muito curioso na minha live. Muita gente achando que eu era hacker mesmo e tal, uma galera que manja de hack me analisando, e acabou que não sou, então a galera foi provando de pouquinho em pouquinho, me ajudando, porque eu não tinha o que falar, eu só podia falar que eu não era. Com isso, com a curiosidade da galera, foi chegando mais gente. Depois de dez meses de live, começou a colar 30, 40 [pessoas] e por aí foi”, disse Samuel sobre o momento em que as lives começaram a crescer.
Para chegar onde chegou, alguns esforços precisaram ser feitos. Como ele já trabalhava, os frutos que colhia lá ajudaram a começar a construir sua carreira de streamer.
“Eu trabalhava numa loja de suplementos, e tinha um ‘PC’ muito ruim. O dinheiro que eu ganhava lá, eu organizei para comprar um computador novo. Eu quis arriscar, eu falei: ‘Pai, mãe, eu tenho 18 anos de idade, eu não sei o que fazer, me deixa tentar um ano disso aqui, porque se eu fizer dar certo eu vou fazer isso pro resto da minha vida’. Então eu peguei esse dinheiro que eu ganhava, me organizei, comprei um computador melhor e comecei a fazer as lives junto com meu trabalho. Por aí foi, fui fazendo normal, quanto mais curioso foi chegando, mais gente foi colando, mais gente foi gostando de mim”, contou.
Como para a maioria dos streamers, o boom de audiência veio no mesmo período: a pandemia. Segundo dados do G1, streamers brasileiros observaram um aumento de até 100% na audiência de suas lives durante o isolamento.
“Começou a pandemia, né? Essa foi a virada de chave pra mim. Nisso eu não ganhava nem um real com live. Eu comecei a ficar mais em casa, não fui trabalhar porque eu sou asmático, entrei de férias do serviço, então eu tinha mais tempo pra fazer live e a galera tava mais em casa, então mais gente começou a colar”. Samuel conta que, nessa época, estava de férias e acabou não retornando para o trabalho, por se encaixar em um dos grupos de risco da Covid-19.
As lives ganharam mais constância e começaram até mesmo a ser rentáveis, rapidamente.
“Eu entrei na pandemia com mais ou menos oito mil seguidores, com uma média de 30 pessoas [assistindo] e já tinha um patrocinador na live. Mas a live não se pagava, eu fiz um ano sem pagar nada com live, apenas com o que eu trabalhava”, explicou ele sobre o começo da rentabilidade.
Na Twitch, a monetização acontece através de Ads, propagandas exibidas durante a live, e com o Twitch Prime, serviço que oferece extras como itens e jogos grátis, emoticons exclusivos e assinaturas para dar aos seus criadores de conteúdo preferidos. A renda também vem de patrocinadores. Samuel tem, inclusive, patrocinadores de outros países que oferecem uma verba para que ele utilize o site deles durante a live.
“No primeiro mês de pandemia, eu ganhei a mesma quantidade que eu ganhava no serviço, porque colou mais gente, eu passei mais Ads. Eu falei: ‘Deixa eu tentar mais um pouquinho, se fizer isso aqui mais uns dois meses não tem porque eu trabalhar mais’. Então passou o segundo mês, dobrou o que eu ganhei no primeiro. No terceiro mês, eu praticamente quitei tudo que eu tinha feito o investimento, que foi quando estourou mesmo”.
Segundo Samuel, o público de uma live atualmente chega a ser de dez mil pessoas por dia, e cerca de 300 simultaneamente.
“A pandemia continuou rolando, mais gente começou a colar, eu comecei a me organizar. Consegui fazer alguns investimentos, consegui fazer com que a minha live fosse rentável para bancar algumas coisas na minha casa, fazer as minhas coisas”, relatou. Assim as lives se tornaram sua principal fonte de renda.
Samuel continua jogando CS até hoje, acumulando quase 12 mil horas de jogo registradas.
“Eu entrei na pandemia com oito mil seguidores e saí com quase 80 mil seguidores a mais. A pandemia foi o meu estalo, foi minha ascensão. E quando eu vi que dava pra se manter na live, fazendo os meus horários, do meu jeito, o meu trabalho; logicamente eu sempre fui muito organizado, desde o primeiro instante eu fiz isso pensando em um trabalho, então sempre abria no mesmo horário, fechava no mesmo horário. Eu fazia como se fosse um programa de TV, pra quem quisesse almoçar, tomar um café da tarde comigo, eu iria estar sempre online”, contou.
Samuel conta que o público das lives já chegou a 9 mil pessoas simultaneamente. O gamer construiu um estúdio em sua casa, onde joga e transmite as lives.
Para quem tem vontade de iniciar nessa carreira, Samuel encoraja e afirma que “não é um [caso] em um milhão, se você for bem organizado e fizer as coisas, você consegue sim”.
“É muito bom fazer auto divulgação, divulgar o seu trabalho. Mas também é muito bom aparecer em lives de pessoas maiores, jogar com pessoas maiores para as pessoas te verem; aceitar convites para outras coisas, como eu fui no podcast; com isso, você vai melhorando a quantidade de pessoas e coisas que você pode fechar com a live”, finalizou ele.
Acompanhe o trabalho do Samuel através do Instagram e, claro, da Twitch. As lives acontecem de segunda à sábado, das 10h às 18h.