Lucas, skatista de Lagoa da Prata com Rayssa, de 13 anos, que é a medalhista olímpica mais jovem da história do Brasil. (Foto: Lucas Luiz da Silva/Arquivo pessoal)
Nas Olimpíadas, no Brasil e em Lagoa da Prata! Como o skate, novo esporte olímpico, impacta a cidade
Alexandre Bernardes e Bárbara Félix
O skate e alguns outros esportes foram incluídos nas Olimpíadas para aproximar os jovens dos Jogos Olímpicos. E a ver pelo primeiro pódio da modalidade street feminina, certamente foi uma medida acertada. Além da brasileira Rayssa Leal, de 13 anos, as japonesas que ficaram com ouro e bronze tinham respectivamente 13 e 16 anos.
Pensando nisso, e na grande repercussão da modalidade no Brasil, o #soumaislagoa conversou com alguns nomes do skate na nossa cidade. Nathan Soares, Eduarda Rezende e Lucas da Silva contaram como conheceram a modalidade, o que esperam dela a partir de agora e falaram sobre as projeções para o skate após a Olimpíada.
Nathan Soares é uma das estrelinhas do sk8 de Lagoa da Prata e começou no skate há cerca de 10 anos, após ver vários skatistas passando diariamente na porta de sua casa.
Com entusiasmo e curiosidade, o jovem conseguiu seu primeiro skate emprestado com um amigo, e após um tempo, ganhou um de presente, e o que começou como um hobby, logo foi se transformando em uma paixão que, de acordo com o skatista, pretende sempre levar na sua jornada.
“No início, achava bacana a ideia de andar em cima de ‘uma tábua com rodinhas’. Nem eu nem minha família não imaginávamos que o skate era um esporte que iria me acompanhar durante todos esses anos”, falou.
E foi em cima de “uma tábua com rodinhas” que o jovem skatista teve oportunidade de participar de várias competições.
“Eu gostava bastante de competir, a sensação de estar sempre aprendendo em cada um deles [skatistas], estar próximo a amigos distantes e ganhar premiações, era ótima. Mas teve um campeonato que foi bastante marcante para mim, o meu primeiro que competi, na época andava apenas nas ruas de Lagoa da Prata e aprendia as manobras com meus amigos; esse foi na cidade de Formiga em 2013. Eu nunca tinha andado em pista de skate antes, cheguei logo cedo na cidade e comecei a treinar na pista, fiquei muito empolgado e feliz de estar andando pela primeira vez, e também participando pela primeira vez de um campeonato, no final do dia veio a premiação e falaram as colocações, consegui ficar em primeiro lugar na minha categoria e trazer a medalha para Lagoa da Prata”, contou Nathan que ainda ressaltou que o skate deveria ser mais incentivado e investido pelas cidades, pois, de acordo com o ele, cada uma delas tem algum talento perdido ou desperdiçado, sem nenhum tipo de ajuda.
“Pretendo começar a dar aulinhas de skate para incentivar ainda mais o esporte na cidade, para que todos aqueles que se interessarem poderão estar participando dessas aulas. Aguardem que dentro de alguns dias irá começar. Irei fazer com que o esporte seja mais valorizado e bem visto por todos na cidade”, relatou o atleta.
As minas no skate
O skate feminino está se tornando cada vez mais forte e as mulheres estão ganhando cada vez mais espaço no esporte, fazendo acontecer e quebrando barreiras, incentivando umas às outras.
Conforme Nathan, quando começou, havia sim meninas na cena do skate, começando a dominar um território que antes era só dos “caras”.
“A visibilidade constante das mulheres andando de skate está sendo inspiradora, e não podemos deixar de falar sobre isso, porque é importante mesmo, principalmente agora que a Rayssa de 13 anos quebrou a barreira e trouxe um reconhecimento maior pro skate”, declarou.
Uma das ‘minas’ é Eduarda Rezende Alves, que também é de Lagoa da Prata – para ela, o esporte sempre foi sua paixão e destacou que nunca se sentiu menos skatista por ser uma mulher. “Sempre fui apaixonada por esse esporte. Desde novinha eu via na tv mulheres skatistas maravilhosas andando e me encantei. Letícia Bufoni foi minha inspiração. Me sinto exorbitantemente feliz. Na época que era a única mulher na pista, tinha muito apoio dos meus amigos skatistas também e pensava que aquele lugar era tão meu quanto deles e de fato era”.
Através de seu pensamento sobre o lugar também poder e dever ser ocupado por mulheres, Eduarda tinha prazer em ensinar quando muitas delas sentiam interesse.
“Queria que a pista fosse cheia de meninas andando e se divertindo. Quando passava uma menina e me olhava ou se interessava pelo skate, eu sentia que poderia ser exemplo para ela e a ensinava a andar e não só isso, mostrava pra ela que ela podia se empoderar. Pra ela ver que não é só porque o homem é predominante em algo (exemplo, no skate), que mulher tem que ter medo de viver, fazer o que quiser e estar onde ela quiser, porque ninguém deve privá-la disso. Eu sempre quis que a pista fosse cheia de mulher, mas sempre houve muito preconceito por fora já que sempre nos chamavam de “sexo frágil”.
Ela ainda acrescentou que a luta da mulher é diária e que vão alcançar todos os ambientes predominados por homens.
“Tenho a absoluta certeza que não só o skate, mas todos os outros esportes terão mais vozes femininas. As mulheres estão tomando seus lugares e se destacando neles. Nós, mulheres, somos f*** e estamos lutando dia após dia para termos o respeito que merecemos. Rayssa, Letícia, Pâmela e todas as outras skatistas femininas que estão crescendo na carreira são exemplos de que o termo ‘sexo frágil’ nunca foi nada além de um grande termo preconceituoso pra nós que podemos tudo”.
A cena em Lagoa da Prata
Para Lucas Silva, o interesse surgiu quando ainda tinha 9 anos, ao ver um grupo andando na praça da Matriz de Arcos durante o casamento da tia. A partir disso ele começou a praticar. De acordo com o fã de skate, a maior inspiração na época eram os próprios amigos. “Quando comecei a andar o esporte ainda não era popular e o pouco acesso que tinha era algumas VHS e revistas, então quando um amigo aprendia uma manobra que parecia impossível era o que mais inspirava e motivava”, relatou.
Lucas que ainda hoje anda na pista da cidade, elogiou a interdição da rua próxima e falou da importância disso para as crianças. “A pista é muito boa e com a rua interditada melhorou muito o espaço. Além de estar mais amplo e seguro, tem muitas crianças que vão lá pra brincar e me veem andando, despertando o mesmo que eu, me recordo quando eu vi e comecei a querer andar”.
Por fim, ele ressaltou a necessidade da repercussão das Olimpíadas serem aproveitadas da melhor forma possível. “Há alguns anos eu e uns amigos fizemos um campeonato aqui, o único que teve na pista pública. Foi bem difícil, mesmo com alguns apoios públicos tivemos que procurar ajuda com algumas empresas e lojas para realizar o evento. Espero que com esse boom algumas coisas possam melhorar, como a ampliação da pista, fazer uma boa calçada onde hoje é o asfalto e a realização de muitos campeonatos. Creio que a “cena” vai melhorar com a popularização do esporte, e em nome dos skatistas de Lagoa da Prata esperamos que os órgãos públicos nos apoiem e ajudem a incentivar a prática do esporte na cidade”, finalizou.