(Foto: Bárbara Félix/Sou+Lagoa)
Trabalhadores falam sobre a coleta de recicláveis em Lagoa da Prata
Bárbara Félix
A pandemia da Covid-19 colocou um holofote em diversos tópicos da sociedade que antes, eram desvalorizados e para muitos, pouco relevantes. Como por exemplo, os trabalhadores informais e também os autônomos, que buscam o sustento de suas famílias prestando serviços que essenciais para a população.
Os catadores de recicláveis em Lagoa da Prata são os responsáveis por coletar o lixo que lagopratenses produzem, mas ainda assim o trabalho executado pelos profissionais não é reconhecido. Apesar disso, o serviço prestado é algo digno e é por causa das coletas realizadas, que o lixo produzido principalmente neste momento da circulação do coronavírus, é retirado das casas por estes trabalhadores que estão nas ruas, em busca de uma renda para sustentar suas famílias.
Assim, a redação do Sou+Lagoa esteve na Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Lagoa da Prata (Ascalp), que é uma Organização Social Coletiva (OSC), criada em 2002 por catadores do antigo lixão.
A redação conversou com o gestor de resíduos, Rui de Moraes, para saber sobre a coleta dos recicláveis na cidade e também falou com Elvira Amorim Fialho, presidente e associada da Ascalp.
Segundo o gestor ao ser questionado sobre o aumento de recicláveis na pandemia, ele disse que independentemente dos acontecimentos, os resíduos tem aumentado consideravelmente, tanto o reciclável como o rejeito, ou lixo.
“São em média 30 toneladas de resíduos domésticos diários, destes pelo menos 25% serão passíveis de reciclagem, ou seja, em média são 7,5 toneladas por dia, mas a Ascalp recicla em média apenas duas toneladas, devido a não separação pela população e o trabalho dos catadores informais”, informou Rui que ainda disse que neste período de pandemia, a associação forneceu Equipamento de Proteção Individual (EPI’s) aos associados para a realização das atividades.
Quem recolhe o lixo reciclável?
Cerca de 18 pessoas fazem parte da Ascalp e trabalham empenhados no recolhimento produzido por 52.165 habitantes que moram em Lagoa da Prata.
Elvira Amorim Fialho é associada há 18 anos, mas trabalha na coleta de recicláveis há mais de duas décadas – ela é presidente da Ascalp e foi uma das fundadoras da associação.
Em conversa com a redação, a presidente disse que antes de fazer parte da associação, morava em um lixão. “Isso foi em 2000, mas em 2002 recebi o convite para ajudar a fundar a Ascalp, então vim para cá para tentar. No início a tive receio, pensava que não seria aceita na cidade porque morava em um lixão, mas fui acolhida de braços abertos em Lagoa da Prata”, disse Elvira.
Desde então Elvira começa todos os dias às 6h o trabalho na Ascalp. Ela ainda brincou dizendo que gosta mais da associação do que da sua casa. “Isso aqui é minha vida, tudo que tive e tenho foi tirado daqui, por causa desse trabalho. Já trabalhei coletando recicláveis no carrinho e hoje aqui na associação eu faço de tudo”, declarou a presidente da Ascalp que ainda completou dizendo que a associação é uma grande família, onde todos batalham juntos.
E um dos membros desta família é Regina Alves, que há nove anos trabalha na Ascalp. Sobre sua jornada de trabalho, ela contou que começa bem cedo, às 6h e finaliza por volta de 16h30.
“Aqui na Ascalp ajudo os meninos a prensarem o lixo na máquina, em outros momentos fico na separação, ou no carregamento”, disse a associada que também falou que a coleta de lixo reciclável é a sua fonte de renda. “É com esse trabalho que sustento meus filhos, e eu tenho quatro! Esse trabalho é minha vida, gosto muito daqui. Trabalhamos rindo o dia todo, aqui não tem tristeza”, declarou.
Trabalhadores e a associação
Na Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Lagoa da Prata (Ascalp), todos contribuem como autônomos. Assim, todos têm os direitos trabalhistas e previdenciário garantido, conforme informou o gestor de resíduos, Rui de Amorim. “Todos que competem ao autônomo, e todos os 18 são a Ascalp, sem distinções, são beneficiados também com todos os convênios firmados com o poder público, privado e terceiro setor. Toda a venda e partilha, são ministrados pelo conselho e aprovado pela assembleia, a distribuição do saldo de caixa depois das vendas”, disse o gestor.
Sabia que tem coleta de lixo reciclável em Lagoa? Saiba os dias!
Em Lagoa da Prata há a coleta apenas dos recicláveis, sendo assim, é importante frisar que antes de colocar o lixo para fora, deve-se fazer a separação do que é reciclável e o que não é.
Os recicláveis são papel misto, branco e papelão; plástico, de acordo com a classificarão, sendo PET,PEAD,PP; metal ferroso, alumínio, cobre e o vidro, vasilhames e recipientes.
Nas segundas-feiras, a coleta acontece no Bairro Marília e Bairro Maria Fernanda II no período da manhã. Já na parte da tarde, a coleta acontece no Bairro Nossa Senhora das Graças, Bairro Etelvina Miranda e Bairro Paradiso, Bairro Santa Eugênia II, Bairro São Francisco e na Vila Mendonça.
Nas terças-feiras ocorre a coleta no Bairro Américo Silva no período da manhã e no Bairro Gomes e Bairro Mangabeiras acontece no período da tarde.
Nas quartas-feiras na parte da manhã, a coleta acontece no Bairro Santa Alexandrina e Bairro Santa Eugênia e na tarde, no Bairro Chico Miranda e Bairro Maria Fernanda I.
Às quintas-feiras, a coleta é nos Bairros Santa Helena e Bairro Monsenhor Alfredo durante a manhã e a tarde no Bairro Cidade Jardim, Bairro Ernesto Bernardes, Coronel Luciano e Bairro Sol Nascente.
Nas sextas-feiras, a coleta ocorre só no período da manhã no Bairro São José. No Centro e Avenida Brasil, a coleta acontece todos os dias após às 17h.
A importância da coleta dos recicláveis para o meio ambiente
Por fim, o Sou+Lagoa conversou com ambientalista Saulo de Castro, que falou sobre como papeis, plásticos e demais tipos de lixo pode afetar o meio ambiente.
Para o ambientalista, o cuidado com os resíduos sólidos do município precisam ter uma atenção especial uma vez que a cada ano eles aumentam de forma tal que já não se tem mais controle e, “o que se vê por todos os lados é lixo esparramado pelas ruas, lotes vagos e terrenos baldios. As saídas da cidade estão todas tomadas por esses resíduos”, declarou Saulo.
Ele ainda alegou que, da forma como a população trata o lixo atualmente, recolhendo e enterrando no aterro sanitário, é um problema que só tende a aumentar, e sobre isso ele explica que “o aterro tem vida útil e pelo que tenho observado não vai durar muito. Precisamos urgentemente implantar uma Usina de Reciclagem de Lixo que abranja todos os tipos de resíduos, sendo vidro, papeis, plásticos, ferragens, eletrônicos, orgânicos e os provenientes da construção civil. Já existe tecnologia para sua transformação em produtos de uso variado e até mesmo serem transformados em energia elétrica. Precisamos ousar mais e ter uma visão de futuro pensando nos próximos 50 anos”, concluiu.