(Foto: Pastoral dos Surdos de Lagoa da Prata)
“O surdo é quem me ensina, e a língua de sinais me acolhe”, diz intérprete da Pastoral dos Surdos
Bárbara Félix
Setembro é um mês dedicado à Comunidade Surda, afinal é repleto de datas importantes, como o dia 10 que é o dia Mundial da Língua de Sinais e no dia 26, próximo sábado, onde será celebrado o Dia Nacional dos Surdos, que representa a vitória da Comunidade Surda em 1857, quando houve a primeira Escola de Surdos no Brasil, e 30 de setembro, Dia Internacional do Surdo, do Tradutor e Intérprete de Libras.
Deste modo, institui-se o Setembro Azul e em Lagoa da Prata, a Comunidade Surda tem o amparo da Pastoral dos Surdos, que atua no município há dois anos. Conforme Mariana Azevedo, membro da pastoral, começou atendendo os surdos e aos poucos, foi ensinando a língua para outras pessoas da igreja católica que tinham interesse em participar da pastoral. “Atualmente a Pastoral do Surdo de Lagoa da Prata envolve 13 surdos de nossa cidade, uns mais participativos, outros, mais distantes, mas todos fazem parte. Contamos também com 10 ouvintes que atuam como intérpretes”, informou.
Mariana destacou que a pastoral tem responsabilidades comuns de uma pastoral da igreja católica, que é servir a Deus em sua espiritualidade, e de acordo com ela, os membros da pastoral servem através da Língua Brasileira de Sinais – Libras.
Ela ainda pontuou que os surdos participam de reuniões do conselho da Paróquia São Carlos Borromeu, com apoio do pároco, padre Cássio e trabalham em conjunto com todas as coordenações. Além disso, a pastoral participa das missas aos domingos, às 19h30, organizam reuniões para estudo, capitação dos intérpretes e curso de Libras, que devido à pandemia, está parado. “Nosso foco principal é levar a palavra de Deus através da Libras, então ainda temos muito trabalho pela frente, pois em Lagoa da Prata ainda há muitos surdos que não sabem Libras e queremos ir ao encontro destes”, falou a interprete.
Mariana também contou que nesta quinta (25), haverá a participação da pastoral na live do Sicoob Lagoacred Gerais, que ocorrerá às 18h. A live abordará a importância da inclusão em Lagoa da Prata e também na cidade de Santo Antônio do Monte.
Outra ação para o Setembro Azul será neste sábado (26), sendo uma live com a coordenadora do Regional Leste 2, Estefane, que é surda e junto com o coordenador Ed Carlos, que falarão sobre a importância do protagonismo surdo dentro da igreja católica, no Instagram da Pastoral do Surdo, @pastoraldosurdolp. E no domingo (27), para efetivar este protagonismo haverá a missa em ação de graças pelo ia do Surdo, na qual os surdos farão as leituras da missa. A celebração será transmitida através do canal da Paróquia São Carlos Borromeu no YouTube, às 19h30.
“Convidamos todos a participarem conosco das lives e da missa e participar fazendo suas perguntas. E não se preocupem, nossos eventos serão inclusivos a você ouvinte que não sabe libras”, pontou Marina.
A importância da pastoral na vida de um surdo e dos membros
No vídeo em Libras, está o Ed Carlos, coordenador da Pastoral do Surdo de Lagoa da Prata e da Diocese de Luz, onde ele falou sobre a importância da pastoral na vida dele. Confira a interpretação:
“Olá pessoal! A Pastoral do Surdo de Lagoa da Prata é muito importante para mim. Antes da criação da Pastoral era muito difícil, pois não tinha intérprete e faltava acessibilidade. Agora eu estou muito feliz, pois temos acessibilidade através do intérprete e eu consigo entender claramente. Obrigado”.
Além da importância para o surdo, a pastoral também é essencial para outros membros da sociedade, como Edilene, que é ouvinte participante e interprete. Segundo ela, a pastoral é uma lição de vida constante. “O surdo é quem me ensina, e a língua de sinais me acolhe. Às vezes eu me pergunto, como eu pude antes viver sem esse contato com a comunidade surda, porque é algo que hoje eu verdadeiramente não me imagino sem. Penso como estavam essas pessoas que tem tanto a oferecer, com tanto valor, existiam e não eram notadas. Hoje vejo o sentimento de felicidade de cada surdo em ter o seu lugar, ter vez, de ser visto e poder participar. Eles carregam a cada passo, o orgulho da sua própria língua e da pessoa que são: surdos. E, longe do que muita gente pode pensar, não é uma nomenclatura pesada, é nome que carrega história, luta e vitória”, declarou Edilene.
Por fim, a coordenadora Mariana falou sobre promover a inclusão em Lagoa da Prata. “Todos devem ter acesso à informação, em casa, na sua família, na sociedade e principalmente da Igreja. O que me move, e já até escrevi uma vez para o Jornal Informação, é o versículo da bíblia encontrado em Marcos 16, 15: ‘Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura’ Jesus diz a toda criatura, não somente aos que ouvem, veem e andam. Então, se meu irmão ouve com os olhos é necessário que eu pregue com as mãos, é uma responsabilidade minha. Assim, como eu tenho acesso à informação, todos devem ter esse direito garantido. E o meu sentimento ao ver Lagoa da Prata se preocupando mais com a inclusão é de felicidade, pelos poucos passos dados, e uma responsabilidade enorme pelo trabalho que ainda precisa ser feito. Precisamos unir forças, para conseguir uma cidade, verdadeiramente inclusiva e não apenas uma inclusão de fachada”, finalizou.