(Foto: Aline Ferreira/Arquivo pessoal)
“Ceaf é a segunda casa dessas crianças”, diz diretora do Centro de Equoterapia Alone Ferreira
Bárbara Félix
“Ajudando essas crianças é como me sinto realizada! Faço por elas o que eu não pude fazer pelo meu irmão; são meus sobrinhos porque me chamam de tia e são os sobrinhos que não terei”, disse Aline Ferreira, diretora e fisioterapeuta do Centro de Equoterapia Alone Ferreira (Ceaf), que nesta segunda-feira (21), completa dois anos de atuação em Lagoa da Prata.
A equoterapia é um método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência ou com necessidades especiais. Atualmente, o centro de equoterapia no município atende, de forma gratuita, crianças autistas através do Projeto Ceaf.
Segundo Aline, o centro de equoterapia é uma família para ela. “No Ceaf, não faço apenas o tratamento nas crianças, mas eu acolho as famílias delas, pois é muito difícil, principalmente tendo um filho autista; ao olhar para ele, não há nenhuma deficiência física, mas há deficiências sensoriais e cognitivas, e isso é não é fácil para aceitarem no início, afinal com isso vêm as dificuldades de socialização. Por essa razão, fazemos os eventos festivos, onde convido outras pessoas da sociedade para irem ao local deles, lá é a segunda casa das crianças”, explicou Aline.
E sendo para as famílias de Lagoa da Prata, foi através da influência, motivação e benção da própria família Ferreira que o Ceaf foi criado por Aline. Ela contou à redação do Sou+Lagoa que sempre esteve presente em projetos sociais com os familiares, principalmente era muito ligada ao irmão, Alone Ferreira, que faleceu em 2008, com apenas 17 anos, antes mesmo de Aline se tornar fisioterapeuta.
“É curioso que um dia antes do meu irmão falecer, ele me perguntou se eu realmente queria ser fisioterapeuta e se eu queria ter um centro de equoterapia. Eu disse que sim, então ele me falou que gostaria que eu fosse ‘a fisioterapeuta’. Então após a faculdade, fiz especialização e fiquei pensando sobre isso”, disse Aline que completou alegando que logo após, decidiu abrir o Ceaf, sendo a fisioterapeuta do centro.
“No início, a ideia era fazer uma parceria com Sistema Único de Saúde (SUS), mas não consegui para o município, e me disseram que não tinha capacidade para isso. Então fui para o plano ‘B’, de fazer um projeto social. Era tudo muito novo no começo, então disponibilizei apenas cinco vagas, para uma associação de autismo, onde eu já era voluntária, só que a demanda foi muito grande. Logo foi aparecendo pessoas além da associação que precisavam do tratamento e fui acolhendo. Quando percebi, havia mais pessoas no projeto, e nesses dois anos mais de 14 já tiveram alta”, declarou a diretora.
Ao irmão, Alone Ferreira
O centro carrega o nome do irmão de Aline, Alone Ferreira, que segundo ela foi e ainda é seu maior incentivador, mesmo que não estando mais presente.
“Eu e meu irmão sempre tivemos uma afinidade espiritual e de apoio muito grande, por isso senti muito forte a ausência dele. Mas vejo hoje que através dessa ligação espiritual, ele vem me abençoando muito. Quando fizemos um ano do centro, fui homenageada pelo ACE/CDL, um reconhecimento que foi além do esperado, não imaginava isso, porém sei que tudo vem do Alone, pela intercessão dele e ajuda, isso tenho certeza. Além disso, teve um momento em que ia realizar um bingo em uma sexta, e na quinta-feira eu só tinha 15 brindes e precisava de 58. Então pedi a Deus, mandava mensagem pros parceiros do projeto, respirava fundo e de repente recebia mensagens e ligações que doações de prêmios para sortear. Mesmo Alone estando longe, ele me apoia muito”, declarou Aline.
Além do apoio do irmão, cujo nome foi dado ao centro de equoterapia, Aline também conta com ajuda de parcerias e colaborações. Conforme ela, neste momento de enfrentamento à pandemia da Covid-19, não é possível promover os eventos para angariar fundos para o Ceaf, e por isso, tiveram que se reinventar.
“Estamos nos reinventando. No início da pandemia, contamos com as arrecadações das lives dos artistas locais, lançamos também a doação mensal através de carnê e fizemos um bingo”, contou Aline.
Tratamento no Ceaf
Atualmente o centro atende gratuitamente 14 crianças de Lagoa da Prata, crianças da Associação Autismo e Possibilidades e possui uma lista de espera com 40 pessoas, estas que aguardam apadrinhamento e vaga para poderem iniciar na equoterapia.
Aline Ferreira explicou que a opção de apadrinhamento ainda não ocorreu no Ceaf, mas que pode ser uma pessoa física ou uma empresa. “Ao apadrinhar, a pessoa ou empresa terá todo o acompanhamento do praticante; mandaremos relatório de como a criança está, o quadro evolutivo e fica a critério do padrinho quanto tempo de tratamento. Vale ressaltar que é de no mínimo seis meses. Também temos o atendimento particular, mas gostaria de lembrar que o Ceaf é um projeto social é sem fins lucrativos, e o objetivo de oferecer equoterapia para pessoas”, finalizou Aline.