Foto: Izabela Silva/ Surtos Líricos/Reprodução da internet
Cineasta lagopratense registra quarentena na cidade e vídeo ganha narração de Ney Matogrosso
Reportagem: Bárbara Félix
Sobrepondo as imagens registradas pela cineasta de Lagoa da Prata, Izabela Silva, que relatam sobre o seu cotidiano na quarentena, a voz de Ney Matogrosso narrou o poema ‘Náufrago’, no vídeo do terceiro episódio de Surtos Líricos, que é um projeto do poeta, jornalista e cineasta Emiliano Goyeneche na Revista Trip – o terceiro episódio foi ‘ao ar’ na última quinta-feira (2). Assista o vídeo clicando aqui.
O projeto mistura crônica e poesia visual, e a cada episódio, Emiliano escreve um novo surto, que mescla com imagens autorais e de artistas convidados para falar sobre o cotidiano da pandemia. Para saber mais, a redação do Sou+Lagoa conversou com Izabela, que foi uma das convidadas para participar de Surtos Líricos. Na reportagem, a lagopratense contou sobre como sua estadia na terra natal durante a pandemia resultou na participação no projeto.
Residindo há dois anos em São Paulo, Izabela retornou para Lagoa da Prata logo quando começou a pandemia para passar uma parte da quarentena mais perto da família. Poeta e cineasta, ela disse que sempre filma e fotografa com o celular tudo o que desperta nela a sensibilidade, seja a natureza, o efeito de uma luz em um ambiente ou ações de pessoas na rua, “Mas principalmente, sempre filmo muito a minha família, meu pai, minha mãe, e minhas tias, que são minhas maiores inspirações. E isolados com eles durante a pandemia, acabei postando muitas fotos e vídeos com eles na minha rede do Instagram, onde acabei me conectando com o Emiliano Goyeneche”, contou Izabela.
A cineasta que passou um fim de semana pescando com a mãe e o pai no Rio São Francisco, “fisgou” alguns momentos durante a pescaria, que agora fazem parte do projeto.
“Acabei filmando muitas coisas com eles, sem nenhuma intenção certa de que usaria estas imagens para algum projeto. O Emiliano viu algumas fotos que havia postado e o vídeo que aparece no final, do pescador em uma canoa e ele ficou muito encantado com as imagens e me pediu para utilizá-las em um vídeo poesia”, falou a lagopratense que ainda completou dizendo que a primeira versão do vídeo é em espanhol e com a narração de Emiliano. “As imagens feitas por mim durante a pandemia encaixaram perfeitamente no poema; eu apareço no início do vídeo e em seguida o meu tio Niguinho. O vídeo foi postado na rede do Instagram do Emiliano e teve uma boa repercussão. Emiliano, que já conhecia Ney Matogrosso mostrou para ele alguns textos, e por acaso Ney acabou escolhendo Náufrago para ler. Depois o Emiliano acabou levando o vídeo para a Trip, que quis fazer uma versão mais comercial para o filme, inserindo algumas imagens do Ney”.
Conforme Izabela, participar do projeto Surtos Líricos foi uma surpresa do início ao fim. “Muitas vezes a gente acha que temos algum poder de escolha sobre os acontecimentos da vida, mas na maioria das vezes somos arrastados sobre eles. É como este rio que aparece no filme ou o pescador, que não usa um remo, mas apenas deixa seguir pela correnteza”, declarou a lagopratense.
Registros da terra lacustre, por Izabela Silva
Para a poeta e cineasta Izabela Silva, os registros na terra natal despertam muitas emoções no coração de um artista, afinal, segundo a lagopratense, é a cidade, junto com as memórias da infância, que formam as características ou o tom da obra de um artista.
“Eu posso morar em muitos lugares, mas parece que sempre, de alguma forma, meus olhos sempre se voltam para Lagoa da Prata. É o lugar do casulo, da criação e uma terra que já inspirou muitos poetas. Acho que foi o Ciro dos Santos, grande historiador e poeta lagopratense quem disse que Lagoa da Prata já foi chamada de ‘a menina dos olhos’ entre as cidades da região e compartilho desta emoção. E quando penso em um momento tão difícil como este, não poderia passar a quarentena em outro lugar”, afirmou Izabela.
A lagopratense ainda ressaltou que o registro na cidade que aparece em Surtos Líricos não foi o primeiro. “Tenho um filme sobre a festa do congado, chamado ‘Carlito’, o meu primeiro filme; ‘A casa do tempo perdido’, também foi filmado em Lagoa da Prata e exibido no cinema da Embaré. Nas eleições de 2018 participei de um projeto de documentário do cineasta Cris Azzi, diretor de ‘O Dia Do Galo’ e ‘Sou Amor’, onde filmei um dia na vida de um eleitor lagopratense e mais recentemente fiz um outro registro durante a quarentena, uma vídeo poesia chamada ‘La Ventana’, onde minha mãe Zélia se torna atriz e faço uma co-criação artística com a poeta mexicana Sofia Minerva, que também conheci pelo Instagram durante a quarentena. Esta obra foi selecionada pela Galeria Art Veine no Rio de Janeiro e ficará em exposição física após a pandemia durante alguns meses”, finalizou.
Os trabalhos da artista lagopratense podem ser assistidos através do Vimeo, clicando aqui.
Confira a primeira versão de Emiliano Goyeneche com imagens feitas por Izabela Silva.