(Foto: Rafael Robatine)
Cheia do Rio São Francisco proporciona espetáculo único em Lagoa da Prata
Alan Russel
Minas Gerais é conhecida por seu relevo acidentado e por ser um estado com muitas serras e montanhas. Entretanto, a região de Lagoa da Prata é um ponto fora da curta nesse perfil geográfico. O relevo privilegiado não só na cidade, mas em todo o município, favorece que a cidade tenha inúmeras várzeas e lagoas marginais do São Francisco e, em situações de enchente, o rio da integração nacional vira uma imensidão de água para todos os lados, proporcionando um belo visual e paisagens de encher os olhos.
Desde janeiro de 2013, o Rio São Francisco na região de Lagoa da Prata não recebia uma enchente de grandes proporções. Porém, no fim do mês de fevereiro e primeira semana de março, a espera acabou e o rio encheu de tal forma que derramou água em todas as várzeas da região e, em determinados lugares, chega a ser difícil diferenciar o que é rio e o que são as lagoas marginais.
A população, ciente disso, acompanhou de perto esse espetáculo da natureza e marcaram presença, principalmente no final de semana, na região da ponte, na estrada que liga Lagoa da Prata a Luz.
Centenas de pessoas de todas as idades foram ao local para ver a transformação que a enchente fez na região e também para registrar o momento em fotos e vídeos.
Um dos visitantes foi João Vitor, jovem de 14 anos que esteve presente com a família no primeiro fim de semana de março para acompanhar a cheia do São Francisco. Ele contou à redação que é a primeira vez que viu o rio tão cheio e que ficou encantado com a quantidade de água.
“Eu nunca tinha visto o rio desse jeito. É muita água, parece até mar. Pra todo lado que a gente olha vê água e é muito bonito. Dá até um pouco de medo. Minha avó que veio com a gente não quis sair de perto do carro porque ela diz que tem medo de altura e a ponte aqui é muito alta. Mas vale muito a pena ver o jeito que o rio tá”, completou o jovem.
A importância das enchentes do Velho Chico
Além de toda a beleza proporcionada pelo espetáculo natural, enchentes desse porte são muito importante para o meio ambiente e para a fauna do rio. Em enchentes como está, onde o rio joga as águas para as lagoas marginais, milhares de peixes tem oportunidade de sair do rio para botar seus ovos nas águas das lagoas, onde os alevinos estão mais protegidos de predadores e podem crescer com mais segurança, é o que explica o presidente da Associação dos Pescadores do Alto São Francisco, Saulo de Castro. Saulo também enfatizou que a lagoa feia, uma das principais lagoas à margem do São Francisco na região, há muitos anos vinha sofrendo com a pouca quantidade de água, e que agora é uma boa oportunidade para a recuperação da lagoa.
“Essa cheia que aconteceu agora é muito importante, principalmente para a lagoa feia, que há muito tempo não recebia águas do São Francisco. A lagoa estava passando por uma dificuldade enorme por causa da pouca quantidade de águas, onde muitas plantas começaram a se desenvolver dentro da lagoa cobrindo todo o espelho d’água, retirando o oxigênio da água, causando muitos danos para todo o meio ambiente ali da região. Além disso, em enchentes como esta, vai haver muita troca de água, troca de peixes; que saem do rio e vão para a lagoa e peixes da lagoa que vão para o rio. Está cheia veio em um ótimo momento e isso é muito importante para que a lagoa feia volte a ter a exuberância que sempre teve”, explicou o presidente da associação.
A redação também conversou com o pescador Wilmar da Silva, mais conhecido como “Tôco”, que acompanha de perto o dia a dia do rio e também das lagoas que o margeiam. Tôco fala da importância da enchente para o rio, meio ambiente e para os profissionais que dependem do Rio São Francisco.
“Fazia sete anos que não tinha enchente no rio e graças a Deus esse ano deu enchente. Nós que somos pescadores ficamos muito felizes com as chuvas e com essa enchente porque a gente depende do rio. Tinham lagoas que estavam muito baixas, inclusive a lagoa feia aqui do lado da ponte. Com a cheia, todas as lagoas vão encher de novo e com isso muitos peixes entram e se reproduzem na lagoa, e isso é muito bom pra nós pescadores”, finalizou o profissional de pesca.
Como dizia Tom Jobim: “são as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração”, e promessa de vida para todo o meio ambiente e para as pessoas que dependem do rio para o sustento de suas famílias.