(Foto: Maria do Carmo Oliveira/Arquivo Pessoal)
Moda sustentável: brechós reaparecem e lagopratenses aderem ao consumo consciente
Reportagem: Bárbara Félix
Brechós até tempos atrás eram vistos de forma estigmatizada e marginalizadas. Consumir produtos destes era algo inimaginável, mas esta ideia foi deixada para trás. A ascensão das lojas de peças já usadas pegou carona direto com a onda do consumo consciente, que é a nova tendência entre os jovens principalmente.
Em Lagoa da Prata, a nova ‘trend’ já está ganhando seu espaço, e um dos brechós que é favorito entre a galera é o Astral Brechó, de Filipe Xavier Vidal Augusto.
Em bate-papo com a redação do Sou Mais Lagoa, Filipe contou que abriu o Astral em março deste ano, que a ideia veio quando percebeu que tinha muitas peças de uso próprio parada. A partir disso, resolveu criar uma página online onde vende as peças através do Instagram.
“Faço minhas vendas pelo Instagram, que é um eficiente canal comercial, onde tem o direito comprar a peça quem comentar primeiro na foto, o que em perfis mais movimentados acontece em segundos. O Instagram ajudou com que o mercado de brechós crescessem, e acredito que o movimento mais legal da moda hoje é o das pessoas e marcas que vendem suas roupas é acessórios nas redes sociais e fazem disso um negócio. É libertador”, declarou Filipe.
O dono do brechó também ressaltou além da plataforma ter ajudado os brechós se tornarem populares, outra característica que é destaque é a confiança dos jovens de seguir o próprio estilo, e não uma moda ditadora.
“A nova geração está mais confiante em seu estilo, e quer sempre peças diferentes, estas que se encontra nos brechós”, destacou.
Felipe ainda contou que para achar peças mesmo boas, é preciso ir a um brechó com tempo e procurar sem preguiça. Ele também disse que as peças mais procuradas são roupas vintage dos anos 80 e 90.
“As peças vintage valoriza muito o corpo dando um caimento perfeito. Além disso, o valor é muito acessível, sendo em média de R$ 5 a R$ 120, dependendo da peça”, ressaltou.
Outro brechó em Lagoa da Prata que é bastante conhecido, fica localizado na Rua Joaquim Gomes Pereira,50, perto da Apae e ao lado do Sacolão Coutinho.
A proprietária, Maria do Carmo Oliveira, mais conhecida como Carminha, falou ao Sou Mais Lagoa um pouco sobre o seu empreendimento sustentável.
Com o brechó ativo desde 2005, e tudo começou quando estava precisando auxiliar o esposo.
“Então apareceu a oportunidade de trabalhar com o que sempre gostei, que é o brechó! Amo o meu trabalho, e é dedicação total, graças a Deus”, contou Carminha.
A veterana ainda falou sobre como consegue as peças para comercializar.
“Trabalho com compra das peças, eu avalio, compro e preparo as peças para revender. Tenho clientes masculino, feminino, adulto e infantil de diversas idades. Graças a Deus várias pessoas estão deixando o preconceito de reusar, afinal comprar em brechó ajuda economizar e auxilia o meio ambiente”, declarou.
A geração consciente
Uma das clientes do Astral é a lagopratense Brenna Nogueira, que entrou no bate-papo para falar sobre as comprinhas conscientes de peças bem legais.
Segundo Brenna, já são oito anos comprando peças em brechós.
“No início, comprava porque as roupas eram baratas e tudo mais, mas com o passar do tempo eu comecei a preferir usar roupas com um estilo mais vintage. Eu adoro o estilo das roupas antigas e acho muita coisa bonita, muita roupa boa em brechós. Hoje em dia eu uso o que me dá vontade e o que acho bonito independente do que está na moda e nas vitrines das lojas por aí”, contou Brenna.
A jovem ressaltou que antes, comprava em brechós com loja física, mas agora, com a ascensão do mercado tecnológico, busca fazer as comprinhas pelo ‘insta’.
“Antigamente comprava com pouca frequência e sempre em brechós com espaços físicos pela cidade, hoje em dia compro bastante em brechós que funcionam online, pelo Instagram e alguns tem espaço físico. Atualmente, com a quantidade de brechós que encontro na internet eu compro com muito mais frequência, já quase não compro em lojas de roupas novas mais”, salienta.
E ela compra de tudo, tanto roupas e livros, mas destaca que compra bem menos que costumava comprar em lojas com peças novas.
“Às vezes compro roupas que não preciso nos brechós quando acho peças bonitas e com a minha cara, mas não extrapolo como antes fazia. E é evidente que os brechós estão em alta e que as pessoas estão procurando. Penso que com a questão do consumo consciente e do mundo estar repensando alguns hábitos com o objetivo de sujar menos o planeta e tudo mais, talvez acarrete um significado de estar ajudando de certa forma”, disse a jovem.
Brechós são a tendência da vez
Para falar sobre a nova tendência que são os brechós, a redação também chamou para a conversa o estilista Artur Malta, que destacou que geração Z – pessoas nascidas, em média, entre meados dos anos 1990 até o início do ano 2010, tem aprendido a gastar dinheiro com coisas que combinam realmente com suas personalidades.
Além disso, ele ressalta que hoje é mais fácil o jovem ditar as próprias regras e vestir o que quiser com esta ascensão dos brechós.
“Está aí um bom lugar pra começar! Experimentar é tudo! Garimpo é realmente uma coisa muito bacana. Você pode fazer uma curadoria de estilos, escolher aquilo que mais combina com você. Além das surpresas que você encontra pelo caminho. Um botão, um recorte, um tecido. Acho que essa experiência tem muito valor, te aproxima da roupa. Geralmente são peças de boa qualidade já que sobreviveram a tanto tempo também. É o que o pessoal procura hoje em dia”, destacou Artur.
O estilista salientou ainda as vantagens de comprar peças em brechó, além do preço inferior. Conforme ele, o consumo consciente acima de tudo, o que é a vantagem principal.
“Por que não usar roupas que já foram feitas? Certamente não deveríamos descarta-las. Também temos aí a durabilidade, peças de diferentes épocas, de diferentes estilos. Roupa básica, roupa elaborada. É um lugar muito livre”, declarou Artur.
Por fim, ao ser questionado sobre a predileção por peças de brechó em razão da produção têxtil ainda afetar o meio ambiente, o estilista alega que há muitos problemas a serem resolvidos e pensados pela indústria da moda, como o descarte e tingimento.
“A produção dos tecidos mais comuns são muito poluentes e demoram anos pra se decomporem. Precisamos sim de mais iniciativas que busquem uma maior responsabilidade social. Acho que um consumo menor é um comportamento que precisamos e já começamos a viver”, finalizou Artur.