(Foto: Arquivo Pessoal)
Psicanalista lagopratense alerta sobre transtornos psicológicos na juventude
Reportagem: Bárbara Félix
Adolescência, uma fase romantizada inúmeras vezes pelos filmes e séries, onde os personagens possuem vidas cheias de regalias e soluções rápidas para os problemas. Porém na vida real, o roteiro é diferente. Crescer dói, ainda mais cercado de padrões, exigência e influencias, que podem gerar transtornos psicológicos.
E já que saúde mental deve ser um assunto abordado sempre, não somente em campanhas como Janeiro Branco ou Setembro Amarelo, a redação do Sou Mais Lagoa conversou com a psicanalista e psicóloga de Lagoa da Prata, Daniele Suene, que traz a tona os motivos que causam transtornos psicológicos nos jovens atualmente. Ela também fala sobre a importância dos adolescentes conversarem com os pais e a busca por ajuda profissional.
À redação, Daniele afirma que não há apenas uma causa principal e sim vários fatores que influenciam os transtornos psicológicos na atualidade, sendo a ditadura da beleza e aparência, a superficialidade das relações, a dificuldade crescente em entender e expressar sentimentos, o consumismo desenfreado e o individualismo, são fatores que contribuem para esse quadro.
“Vende-se a ideia de que para ser feliz é preciso ter e não ser. Há uma imposição de um padrão de beleza impossível de ser alcançado o que deixa as pessoas, principalmente os jovens, insatisfeitos e frustrados consigo mesmos”, declarou Daniele.
A psicanalista e psicóloga ainda alerta que a tecnologia também é um fator que influencia negativamente o quadro atual.
“Nas redes sociais têm-se a falsa ideia de se ter muitos amigos, quando na verdade estamos cada vez mais sozinhos. O relacionamento virtual é um relacionamento do indivíduo com ele mesmo, pois cada um, com sua subjetividade e jeito de ser, lê e entende o que é postado de uma forma diferente, de acordo com suas experiências e bagagem de vida. Nesse contexto, a tecnologia favorece cada vez mais a individualidade, a crença na felicidade material e o padrão de beleza ditador, formando assim indivíduos frustrados e infelizes”, ressaltou.
Embora a tecnologia seja um dos fatores problemáticos atualmente, Daniele salienta que não se pode negar a importância e utilidade da mesma para nossa sociedade, mas que é preciso alertar que a exposição precoce e excessiva a ela tem se mostrado muito prejudicial na formação das crianças e adolescentes.
Os problemas e o medo de se abrir com os pais
Muitos jovens se recusam se abrir e contar aos pais ou responsáveis, o que está acontecendo em suas vidas, se negam a falar sobre suas angustias e problemas, mas a psicanalista e psicóloga alerta que a iniciativa de saber como vão as coisas deveria partir dos pais.
“Eles devem dar mais atenção aos filhos e buscando ter mais diálogo. Porém, nos dias atuais a falta de tempo é a premissa dominante. Na tentativa de dar uma vida melhor aos filhos, muitas vezes os pais pecam dando presentes e bens materiais para suprir a falta da presença, provocando a ideia de que são muito ocupados e que não tem tempo para as ‘besteiras’ dos filhos. Acredito ser esse o maior desafio a ser enfrentado, a ideia de que os transtornos mentais são besteiras passageiras, frescuras, corpo mole”, salientou Daniele.
Ela ainda aconselha os jovens a falar com honestidade sobre o que estão sentindo.
“Eles devem realmente dizer o que estão pensando e passando com sinceridade. Assim, os pais poderão entender e ajudar seus filhos”, disse.
Buscar por ajuda profissional
A psicanalista e psicóloga ressaltou sobre a busca por tratamento, e um deles é a terapia, que pode ajudar os jovens a lidar e ultrapassar os problemas.
Segundo ela, a psicoterapia é uma das formas mais efetivas para ajudar nos transtornos psicológicos e a superar problemas, seja com crianças, jovens ou adultos.
“O processo psicoterapêutico favorece o autoconhecimento e entendimento das emoções, facilitando assim a superação dos problemas. No caso de jovens com depressão, bipolaridade, é necessário avaliar a forma de manifestação desses transtornos. Cada caso é um caso. Cada pessoa sente e pensa de forma diferente. Às vezes o que é pequeno e sem sentido para um, é insuportável para outro. Há casos que necessitam de intervenção médica com prescrição medicamentosa, já outros casos apenas o acompanhamento psicológico atende aos problemas apresentados”, informou Daniele.
A psicanalista enfatizou que é necessário que todos estejam trabalhando em conjunto, sendo o médico, psicólogo e família, em prol da melhora do jovem.
Daniele ainda conta que se houver casos, do jovem sentir que deve procurar ajuda, mesmo sem a aceitação dos pais, há alguns psicólogos que reservam uma porcentagem de seus horários para atendimento social, ou seja, gratuito, mas ressalta que infelizmente é uma situação muito delicada, que dependerá de cada profissional.
“Considerando que, em se tratando de crianças e adolescentes, é necessário a autorização e auxílio dos pais no processo, além da realização da anamnese, que é a entrevista inicial com os responsáveis, na qual são levantadas todas as informações importantes da gestação e infância que são essenciais no entendimento do problema atual. Porém, quando se precisa de ajuda não há empecilhos que não possam ser transpostos”, finalizou.